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Jornalismo Científico

Apesar da Internet, amplia-se o aperfeiçoamento formal

Multiplicam-se no exterior os programas de jornalismo científico

No artigo Como a Internet está mudando o jornalismo científico, publicado no HMS Beagle, com data de 3 de setembro último, David Whitehouse, editor de ciência do BBC News Online, considera com impecável ironia britânica que, atualmente, para ser um jornalista científico passável, basta ter meia dúzia de marcadores de página em seu browser na Web. “São eles EurekAlert – que é, obviamente, o principal lugar, na Internet, para jornalistas de ciência; HMS Beagle, é claro; o site de divulgação de Nature; e o site europeu Alpha Galileo. Acrescentem-se a eles algumas ligações para o Departamento de Saúde do Reino Unido e pronto: você é um jornalista de ciência de altos vôos.”

Embora Whitehouse tenha flagrado com seu olho crítico um viés real da atual cobertura jornalística de ciência, mantêm-se no mundo inteiro, ou pelo menos nos países mais desenvolvidos, possibilidades de formação especializada de profissionais que trabalham ou pretendem trabalhar com difusão de informações de ciência e tecnologia. Entre dezenas de programas de aperfeiçoamento em jornalismo científico espalhados pelos Estados Unidos e Europa, pode-se citar, por exemplo, o famoso Knight Science Journalism Fellowship, iniciado em 1983 e pelo qual passaram até hoje 162 jornalistas.

O programa propõe aos candidatos passar um ano acadêmico (nove meses, de setembro a maio) no MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em Cambridge. Destina-se principalmente a jornalistas com experiência mínima de três anos na cobertura de ciência, tecnologia, medicina ou meio ambiente, para o público em geral, mas jornalistas que trabalham há pelo menos cinco anos com outros temas e desejam mudar para a área de CeT também são aceitos. As bolsas, de US$ 35 mil, são concedidas somente a norte-americanos. Os estrangeiros devem custear suas despesas, que, segundo advertência dos responsáveis pelo Knight, são altas mesmo para padrões norte-americanos. Um pequeno apartamento para uma pessoa em Cambridge custa cerca de mil dólares mensais.

O programa do MIT, segundo os termos de sua divulgação na Internet, pretende atingir também jornalistas veteranos. “Aqueles com muito mais tempo de experiência são altamente incentivados a se candidatar.” As bolsas do Knight são oferecidas para repórteres, escritores, editores, produtores, ilustradores e fotógrafos. Os solicitantes podem ser empregados contratados ou free-lancers, ligados a jornais, serviços eletrônicos, revistas, rádio, televisão, produção de textos de livros ou textos na Web. Não estão qualificados profissionais cujo emprego principal é de “relações públicas” ou “informação pública” para qualquer cliente.

No caso de empregados contratados, normalmente eles são licenciados pelo empregador para se dedicar integralmente ao programa. E a maioria dos empregadores complementa as bolsas, pagando a diferença em relação ao salário normal do jornalista. Em troca, eles têm o direito de pedir aos bolsistas que voltem e permaneçam pelo menos um ano no emprego após a bolsa.A seleção dos bolsistas é feita por um conselho de jornalistas e destacados cientistas do corpo docente do MIT. No ano passado foram recebidos 43 pedidos e na avaliação sobraram 12 finalistas.

Investigação na Internet
Com paciência para navegar na Internet, pode-se descobrir os detalhes de muitos outros programas de aperfeiçoamento em jornalismo científico. Há, por exemplo, o mestrado oferecido pela Universidade de Boston (ver http://www.bu.edu), que também é voltado para jornalistas que trabalham com informações de ciência, tecnologia, meio ambiente e saúde para o grande público. O Centro de Jornalismo Científico da Universidade de Missouri (http://science.jour.missouri.edu), fundado em 1987, oferece cursos e workshops nas mesmas áreas. A Universidade da Califórnia, em Santa Cruz (http://www.ucsc.edu), tem também, desde 1982, um programa de pós-graduação em jornalismo científico.

Do outro lado do Atlântico, a British Association (http://britassoc.org.uk) preocupa-se mais em mostrar aos cientistas como a mídia trabalha (programa Media Fellowships) do que em formar jornalistas para a cobertura de ciência. De qualquer sorte, é possível procurar no site iniciativas que sejam de maior interesse dos jornalistas. Já a Universidade de Salamanca, na Espanha, tem um respeitado mestrado em Cultura e Comunicação em Ciência e Tecnologia (http://cts.usal.es), voltado para jornalistas e outros profissionais. Sem cair na caricatura esboçada por Whitehouse, é recomendável aos jornalistas científicos algumas pesquisas, inclusive sobre a formação de jornalistas, na Internet.

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