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BOAS PRÁTICAS

Artigos retratados continuaram a ser citados

A carreira do anestesiologista norte-americano Scott Reuben, ex-professor da Universidade Tufts, em Boston, terminou há mais de uma década, quando ele foi condenado a seis meses de prisão por fabricar dados em artigos publicados nas décadas de 1990 e 2000. Não eram quaisquer trabalhos, mas estudos que se tornaram referência sobre o alívio da dor de pacientes submetidos a cirurgias ortopédicas. Um levantamento publicado em março na revista Scientometrics usou o exemplo de Reuben como parâmetro para estudar um fenômeno que afeta a integridade da produção científica: as citações a artigos que foram invalidados há muito tempo.

Pesquisadores de universidades de Graz e Salzburgo, na Áustria, analisaram as taxas de citação do conjunto de artigos publicados por Reuben, retratados ou não. Constataram que os trabalhos foram citados como referência em outros papers 420 vezes entre 2009 e 2019, sendo que 360 delas remetiam aos trabalhos invalidados. É possível mencionar um artigo alvo de retratação a fim de mencionar suas conclusões falhas, mas esse não foi o caso da maioria das citações aos artigos do anestesiologista. Mais da metade (60%) dos papers que citaram esses artigos não fez nenhuma indicação de que eles já não eram válidos.

Em geral, os artigos retratados de Reuben receberam 92% mais citações que os artigos de um grupo-controle, formado por estudos íntegros divulgados nas mesmas revistas que acolheram os trabalhos do anestesiologista e no mesmo período. “É possível que isso se deva ao fato de os dados falsificados serem atraentes e de suas conclusões se encaixarem em uma variedade de outras publicações”, escreveram os autores austríacos. Eles alertam que esse fenômeno tem um impacto pernicioso na ciência, uma vez que a divulgação contínua e prolongada de dados falsificados pode resultar em graves distorções de evidências.

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