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Ecologia

Árvores da Amazônia geram novas folhas mesmo durante a seca

Estocagem de água no solo no período de chuvas é crucial nesse processo, segundo estudo publicado na revista Science

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Eduardo Cesar Produção contínua de folhas novas, mesmo durante a estação seca, é a responsável pela absorção de CO2 da atmosfera nas florestas tropicaisEduardo Cesar

A produção contínua de folhas novas, e não a quantidade delas em cada árvore, é a responsável pela absorção de gás carbônico (CO2) nas florestas tropicais. A conclusão é de um grupo internacional de pesquisadores, entre eles brasileiros de diversas instituições. Em um estudo publicado na edição desta semana (26 de fevereiro) da revista Science, eles sugerem que a produção de novas folhas pelas árvores aumenta durante a estação seca, contribuindo para maior absorção de CO2. A constatação é surpreendente porque no ápice da estação seca as condições climáticas são mais adversas, e a disponibilidade de água é baixa. Isso significa que as plantas, até onde se sabe, teriam menos nutrientes para gerar novas folhas, enquanto as folhas mais velhas progressivamente perderiam a capacidade da floresta de realizar fotossíntese — processo por meio do qual as plantas convertem a energia solar em açúcar, retirando CO2 da atmosfera.

Parece que não é bem assim. Por meio de torres instaladas no meio da selva, os pesquisadores monitoraram a capacidade de diferentes espécies de plantas de realizarem fotossíntese em quatro parcelas de florestas, distribuídas em regiões da Amazônia separadas por centenas de quilômetros e com padrões de chuvas distintas. Ao analisar os dados, eles verificaram que as árvores continuavam produzindo novas folhas, mesmo nos períodos de pouca chuva, e que estavam absorvendo CO2 da atmosfera. Em épocas mais secas, as árvores, mesmo as mais altas e imponentes, perdem folhas. Assim, os modelos computacionais usados para explicar as interações sazonais entre a floresta e as condições atmosféricas em regiões tropicais, em geral, sugeriam que pouca chuva resultaria em menos água para as plantas, que, em consequência, produziriam menos folhas. E à medida que as folhas remanescentes envelheciam, a planta perdia sua capacidade de fazer fotossíntese e absorver mais CO2 da atmosfera.

“Parece que a perda de folhas durante os períodos de seca é compensada pela produção de folhas novas, o que resulta em uma queda na faixa etária das folhas que compõem a copa das árvores”, diz o engenheiro florestal Paulo Brando, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e um dos autores do estudo. Para isso, as plantas usam o estoque de água no solo profundo para trocar as folhas mais velhas progressivamente por folhas mais novas. Esse processo explica a variação sazonal na capacidade da floresta de realizar fotossíntese — processo por meio do qual as plantas convertem a energia solar em açúcar, retirando CO2 da atmosfera.

Essas folhas, então, fariam mais fotossíntese que as mais velhas. “Isso quer dizer que durante o ano a sazonalidade da floresta, em termos de fotossíntese, está mais associada à produção de folhas novas e menos à variação do clima”, diz. Os pesquisadores agora pretendem incluir este mecanismo nos modelos que pretendem estimar o efeito das mudanças climáticas sobre as florestas tropicais, uma vez que parece haver outras variáveis, além da climática, a influenciar a regulação do fluxo de CO2 nessas selvas. O estudo foi financiado do projeto GoAmazon, mantido pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos em parceria com a FAPESP e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas.

Artigo científico
WU, Jim et al. Leaf development and demography explain photosynthetic seasonality in Amazon evergreen forests. Science. v. 351, n. 6276, p. 972-76. fev. 2016.

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