O pintor Frans Janszoon Post tinha 25 anos quando chegou ao Brasil, em 1637. Ao lado de arquitetos, naturalistas e médicos, integrava a comitiva holandesa do conde Maurício de Nassau (1604-1679). Até 1644, quando deixou o país, empenhou-se em desenhar ou pintar tudo o que lhe pareceu merecedor de registro na então possessão da Holanda. Descobertos recentemente no Noord-Hollands Archief, 34 desses desenhos estão agora expostos à visitação pública na National Gallery of Ireland, em Dublin, na Irlanda.
As representações de animais foram localizadas por Alexander de Bruin, curador de imagens do arquivo holandês, no início desta década, durante um trabalho de digitalização. Ao realizar o levantamento de pinturas dos séculos XVI e XVII, encontrou as imagens em uma pasta com desenhos de pássaros doados ao arquivo em 1888 e feitos por outros dois artistas holandeses, contemporâneos de Post: Pieter Holsteijn I (1585-1662) e Pieter Holsteijn II (1614-1673). Impressionado com a qualidade dos desenhos, Bruin trabalhou com especialistas do Rijksmuseum, em Amsterdã, e da revista Master Drawings, para estabelecer sua autenticidade. Até essa descoberta, não eram conhecidos estudos de plantas ou animais de autoria de Post.
Na elaboração dos desenhos, Post utilizou três técnicas distintas. Vinte e quatro deles foram feitos em guache e aquarela. Os outros 10, em grafite. Representações minuciosas, quase todos são acompanhados de anotações à mão, datadas do século XVII, que indicam a aparência, o temperamento, o comportamento dos animais retratados e até mesmo o sabor de sua carne – mas nenhuma está assinado. “Os desenhos e suas legendas têm um frescor que transmite a sensação de que você está realmente olhando por cima do ombro de Frans Post, enquanto ele captura a fascinante fauna do Novo Mundo”, observou Bruin, em texto publicado no site do Noord-Hollands Archief.
A National Gallery exibe os desenhos de Post, que nasceu e morreu em Haarlem (1612-1680), até 9 de dezembro. Além desses estudos sobre animais como antas, gambás, lulas e macacos, integram a exposição outras duas obras do artista, que ganhou notoriedade ao retratar a exuberância nacional. Fundamentais para compreensão de sua arte, Paisagem brasileira com fábrica de açúcar (ca. 1660) e Visão de Olinda (1662) exibem algumas das características que marcaram a produção do artista holandês: linhas de horizonte com céus que se abrem para áreas amplas, tendo em primeiro plano o objeto meticulosamente pintado (ver Pesquisa FAPESP nº 100).
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