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BOAS PRÁTICAS

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A arqueóloga canadense Mary Ellingson (1906-1993) foi reconhecida oficialmente como uma das autoras do catálogo arqueológico Excavations at Olynthos, uma série ilustrada de 14 volumes publicada pelo arqueólogo David Moore Robinson (1880-1958), que foi pesquisador das universidades Johns Hopkins e do Mississipi, nos Estados Unidos. A Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos retificou o registro da obra e incluiu o nome de Ellingston na abertura do catálogo a pedido da editora da Universidade Johns Hopkins, que detém os direitos autorais.

Quando era estudante de pós-graduação na Johns Hopkins, Ellingston, que à época usava o nome de solteira, Mary Ross, participou da equipe de arqueólogos liderada por Robinson que descobriu a cidade grega de Olinto e fez escavações no sítio entre 1928 e 1938 – o trabalho ganhou notoriedade por se concentrar na arquitetura das casas e na vida doméstica da Grécia antiga, em vez de grandes templos. Coube a Ellingson fotografar escavações e documentar em álbuns estatuetas de terracota encontradas no sítio. Mais tarde, ela escreveria uma dissertação de mestrado analisando as figuras de terracota e os locais onde foram encontradas e retomaria o assunto em sua tese de doutorado, em que expandiu sua análise para amostra de estatuetas encontradas na Grécia e nos Balcãs. Ellingson não publicou esses trabalhos, mas eles se tornaram parte da série Excavations at Olynthos. A dissertação transformou-se no volume VII, lançado em 1933, e a tese virou a primeira parte do volume XIV, de 1952.

Robinson não deu à aluna o crédito pelo trabalho. Mencionou-a na introdução do volume XIV como uma participante “leal, diplomática e trabalhadora da equipe de Olinto, que ajudou com sucesso a supervisionar a escavação do Cemitério Leste”. Disse ainda que ela produziu apenas um útil inventário datilografado das figuras de terracota e que deu “sugestões valiosas”.

Ellingson manteve boa relação com Robinson e aparentemente não contou a ninguém que era coautora do catálogo. Quando a arqueóloga morreu, em 1993, suas filhas doaram sua coleção particular de fotografias de Olinto e de cartas da época para os arquivos da Universidade de Evansville, em Indiana, onde a pesquisadora trabalhou como docente entre 1963 e 1974. O caso só veio à público em 2014, com a publicação do livro Archaeology, Sexism, and Scandal, de Alan Kaiser, pesquisador da Universidade de Evansville que estudou o acervo legado por Ellingston à instituição. “Reconhecer as contribuições há muito suprimidas de Mary Ellingson para a série Excavations at Olynthos é um passo significativo em direção à justiça no mundo acadêmico”, afirmou Kaiser, em um comunicado de imprensa publicado pela universidade. “Seu trabalho inovador finalmente recebeu o reconhecimento que merece, e sua história permanece como uma inspiração para todos aqueles que se esforçam pela verdade e pelo reconhecimento em seus respectivos campos.”

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