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BOAS PRÁTICAS

Autores de artigo sobre origens da variante ômicron na África pedem retratação do trabalho

Um estudo sobre as origens da variante ômicron do novo coronavírus (Sars-CoV-2) publicado no início de dezembro na revista Science foi retratado a pedido dos próprios autores do trabalho. Eles reconheceram que algumas das sequências do genoma do vírus usadas para embasar suas conclusões estavam contaminadas, conforme outros pesquisadores já haviam alertado no Twitter.

A ômicron foi identificada pela primeira vez em novembro de 2021 na África do Sul e rapidamente se espalhou pelo mundo. No entanto, pouco se sabe sobre sua origem exata, em parte porque ela tem diferenças importantes em relação às variantes que circulavam até então.

No estudo publicado na Science, os pesquisadores analisaram milhares de amostras do vírus obtidas de indivíduos com Covid-19 de 22 países da África e identificaram evidências de linhagens ancestrais da ômicron em 25 delas, coletadas em agosto e setembro de 2021, meses antes de a variante ser identificada na África do Sul. Sob coordenação do médico Jan Felix Drexler, da Charité – Universitätsmedizin Berlin, na Alemanha, eles então sequenciaram o genoma de cinco dessas amostras, nas quais encontraram características da ômicron e também de outra variante, a delta.

Os achados, segundo os autores do artigo, indicavam um estágio intermediário de evolução do patógeno, reforçando a teoria de que a ômicron evoluiu aos poucos e silenciosamente pelo continente. Alguns cientistas, porém, identificaram inconsistências nos resultados. As sequências genômicas apresentadas como ancestrais iniciais da ômicron tinham muitas mutações típicas da subvariante BA.1, que evoluiu posteriormente. Ou seja, as amostras possivelmente estavam contaminadas.

Após revisarem seus dados, os autores confirmaram a suspeita. “Identificamos uma mistura de diferentes fragmentos genômicos do Sars-CoV-2 contaminando algumas das amostras e dados de sequência nos quais baseamos nossa análise. Como as amostras residuais estão esgotadas, a reconstrução de intermediários evolutivos não pode ser replicada. Por isso, estamos retratando nosso artigo”, escreveram na nota, publicada em 20 de dezembro.

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