Imprimir Republicar

Gênero

Avanços em direção ao equilíbrio

Relatório da editora Elsevier mostra que cresceu a participação feminina entre autores de artigos, mas homens preservam vantagem em colaborações internacionais e citações

A editora Elsevier divulga hoje (5/3) o relatório “A jornada do pesquisador através da lente de gênero”, que mostra a evolução da participação de homens e mulheres em atividades de pesquisa em 15 países e no conjunto da União Europeia, a partir da análise de artigos publicados entre os anos de 2014 e 2018 e indexados na base de dados Scopus. Os dados mostram avanços em direção ao equilíbrio de gênero: em todas as nações analisadas, a presença feminina entre os autores de papers cresceu em comparação com o período de 1999 a 2003. O principal destaque foi a Argentina, único país em que a paridade foi atingida e o número de pesquisadoras em atividade que produziram artigos superou ligeiramente o de homens. O Brasil aparece em terceiro lugar, com cerca de 0,8 mulher por homem (ante 0,55 no período de 1999 a 2003). O desempenho do país foi superado também por Portugal (0,9), mas ficou à frente de nações como Reino Unido e México (0,6 cada país), Estados Unidos e Alemanha (0,5) ou Japão (0,18 mulher para cada homem).

O avanço, contudo, não foi homogêneo e o crescimento da participação feminina foi menor nas ciências físicas do que nas ciências da vida e da saúde. Em enfermagem e psicologia, a presença das mulheres suplantou a de homens na maioria dos países. Já matemática, física e ciências da computação mantiveram-se como espaços predominantemente masculinos. O Brasil apresenta peculiaridades em relação às nações centrais, como a presença majoritária de mulheres em áreas como farmácia, neurociência e odontologia.

De acordo com a CEO da editora, a economista turca Kumsal Bayazit, a produção de conhecimento sobre disciplinas em que há desequilíbrio de gênero é importante para a Elsevier desenvolver novas estratégias para recalibrar a participação feminina nas conferências científicas que promove e entre membros de conselhos editoriais e de revisores de seus periódicos. “Há áreas persistentes de desigualdade de gênero e temos trabalho a fazer para abordar questões relacionadas à diversidade e à inclusão na pesquisa científica. Não existe uma solução única. Será necessário que todas as partes do ecossistema de pesquisa se juntem e se concentrem em promover mudanças duradouras”, disse Bayazit.

O trabalho aponta disparidades de gênero em outros indicadores. Em geral, os homens são mais presentes em posições de prestígio na lista de autores de um artigo científico, como o de autor correspondente, aquele que assume a responsabilidade global sobre o paper, ou o último nome da lista, em geral o líder do grupo de pesquisa. Os homens também são mais representados entre os autores que ostentam longa trajetória, tendo publicado artigos antes do ano de 2003, enquanto as mulheres têm seu melhor desempenho no grupo dos que começaram a publicar há pouco tempo, entre 2014 e 2018. Isso evidencia, de um lado, que o avanço feminino é recente, mas também é interpretado como um sinal de que elas interrompem a carreira com mais facilidade do que eles.

O impacto de publicações de homens e mulheres foi mensurado e houve vantagem masculina em quase todos os países. O principal destaque, curiosamente, foi a Argentina, a despeito de ter mais mulheres entre autores de artigos. No Brasil e no México, houve equilíbrio nos índices de citações entre os gêneros. No Reino Unido e em Portugal, as mulheres foram mais citadas que os homens. Em média, os autores do sexo masculino tiveram mais coautores do que as do feminino. O relatório também destaca que as mulheres participam de redes de colaboração internacional com frequência menor que os homens, o que pode ter impacto na progressão da carreira, e há uma tendência dos autores de celebrar colaborações com pessoas do mesmo sexo.

Se as mulheres ampliaram seu desempenho entre os autores de artigos, elas seguem mal representadas em indicadores de patentes. De acordo com dados fornecidos pelos escritórios de patentes dos Estados Unidos e da Europa, em todos os países analisados a proporção de homens e mulheres entre os solicitantes e os titulares de patentes sofreu oscilações apenas ligeiras no período de 2012 a 2016 em comparação com o de 1999 a 2013. A Itália foi o único país em que se observou paridade entre homens e mulheres titulares de patentes.

Republicar