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História

Bases sólidas

Como a Fundação Conrado Wessel nasceu, cresceu e passou a apoiar a arte, a ciência e a cultura no Brasil

Cesar Camargo Mariano e Céline Imbert se apresentaram na festa do Prêmio FCW 2008, no dia 1º de junho

Cesar Camargo Mariano e Céline Imbert se apresentaram na festa do Prêmio FCW 2008, no dia 1º de junho

Os prêmios concedidos pela Fundação Conrado Wessel (FCW) à arte, à ciência e à cultura, assim como as bolsas de pós-doutorado no país e de graduação no exterior, já são contribuições reconhecidas pela comunidade científica do país. Também as doações anuais às instituições com diferentes fins tornaram-se uma tradição de benemerência da fundação. Todas essas ações foram-se cristalizando nesta primeira década do século XXI e hoje são consideradas colaborações importantes para a sociedade. O que ainda pouco se sabe é como se constituiu a FCW e o que a tornou sólida.

Uma fundação compõe-se, em linhas gerais, de um patrimônio inicial deixado pelo instituidor a uma finalidade social, sob a vigilância do Ministério Público, e gerido por administradores que devem seguir o estatuto e a legislação. Para evitar o colapso do patrimônio original, crescer e impedir que a organização se torne insolvente e inviável é preciso uma administração eficiente e vigilante. Foi o que se fez com a FCW, uma instituição privada que nasceu oficialmente em 1994, quando se cumpriu o desejo de Ubaldo Conrado Augusto Wessel expresso no seu testamento feito em 1988, cinco anos antes de sua morte, e no qual está determinada a criação da fundação à qual destinava “todos os bens”. O objetivo foi cumprir as duas incumbências deixadas pelo fundador: fazer doações a entidades filantrópicas e premiar a arte, a ciência e a cultura no Brasil.

Para tais finalidades, Wessel legou um patrimônio inicial constituído de 41 imóveis na capital paulista, em grande parte alugados, nos bairros da Barra Funda, dos Campos Elísios e de Santa Cecília, que totalizavam 18.722 metros quadrados (m²) de área construída. E seis outros imóveis em Higienópolis onde deveria ser erguido “um empreendimento imobiliário cuja renda seria destinada à concessão de prêmios”, de acordo com o testamento. A implementação da gestão correta desses bens levou-os a crescer, em média, 30% ao ano desde 2000, quando uma nova diretoria assumiu a fundação e imprimiu outra dinâmica para reverter o perfil de rentabilidade patrimonial: desconcentrou, construiu novos e maiores prédios, fez aquisições e atualizou a carteira imobiliária. Hoje são 51 imóveis e mais de 22.000 m² construídos. Como resultado desse investimento, a fundação concretizou o desejo de seu fundador expresso no estatuto.

A administração da FCW é formada por Conselho Curador e Diretoria Executiva. Para a primeira diretoria, cuja gestão foi iniciada em 1995, Conrado Wessel havia indicado os seus testamenteiros como diretores nos três primeiros anos da fundação. O Ministério Público nomeou os dois testamenteiros – um diretor administrativo e um diretor gerente financeiro –, que ocuparam a direção por tempo de mandato superior ao especificado pelo fundador Wessel. Eles permaneceram nos cargos não por três anos, mas por cinco anos.

Para o Conselho Curador Wessel não indicou ninguém, mas o Ministério Público nomeou um afilhado dele em sua homenagem. Desse conselho também fazem parte permanentemente três representantes das entidades beneficiárias, ou seja, aquelas que recebem uma doação significativa da FCW a cada ano. No caso, a Fundação Antonio Prudente, o Corpo de Bombeiros e a Associação Benjamin Constant. Após o período de transição e auditoria dos bens houve a posse da nova Diretoria Executiva em fevereiro de 2000. A partir dessa gestão, o legado de Conrado Wessel foi integralmente administrado de acordo com os objetivos definidos para o patrimônio da FCW.

Leopoldo de Meis, Ariano Suassuna e Fulvio Pileggi, três ganhadores do Prêmio FCW 2008

Leopoldo de Meis, Ariano Suassuna e Fulvio Pileggi, três ganhadores do Prêmio FCW 2008

Esses objetivos são dois, como foi dito: doações e incentivo à arte, à ciência e à cultura. As doações são feitas anualmente para as três entidades já citadas, além de outras duas (Aldeias Infantis e Exército de Salvação) e vêm dos recursos obtidos com as locações dos imóveis. As condições são definidas no estatuto social: devem ser destinadas aos beneficiários como “aporte de recursos para utilização educativa, cultural e científica”. Além disso, há uma cota da administração da FCW, em parceria com o Ministério Público, que distribui cestas básicas. Até 2009 já foram atendidas 10.478 famílias assistidas por 31 entidades e instituições paulistas.

O incentivo à arte, à ciência e à cultura é o outro objetivo estatutário da FCW e a razão de a fundação ser hoje uma referência nacional no meio acadêmico. As premiações distinguem os nomes reconhecidos internacionalmente na Ciência Geral; na Ciência Aplicada ao Campo, à Água, ao Meio Ambiente, à Tecnologia, à Biologia; na Medicina; e na Cultura. Para esse fim, a fundação usou os seis imóveis de Higienópolis. Wessel pensava que eles poderiam se transformar em um empreendimento imobiliário, talvez como um conjunto residencial de apartamentos. A FCW, no entanto, ultrapassou a expectativa de seu instituidor – o empreendimento se configurou no Shopping Pátio Higienópolis, o que deu segurança orçamentária para o seu maior objetivo, o de concessão dos prêmios.

Na época, surgiram numerosas propostas para os seis terrenos. A mais atraente delas foi construir um shopping. Entretanto eram necessários no mínimo 15.000 m² de área para o empreendimento comercial e a fundação tinha apenas 68% do necessário. Para chegar aos 100% foi preciso se unir a mais dois proprietários vizinhos, a Obra de Santa Zita e a empresa Plaza. O conjunto então formado atingiu 15.223,22 m². A participação no empreendimento foi estabelecida em 25% das cotas para a FCW e a Obra de Santa Zita; e 75% para o investidor responsável pelo custo de implantação e construção. Como tinha 68% da área, a fundação recebeu 17% das cotas (68% x 25% = 17%); e como a Obra Santa Zita detinha 32% da área, ficou com 8% das cotas (32% x 25% = 8%). O Shopping Pátio Higienópolis foi construído, se tornou um sucesso em pouco tempo e hoje vem de seu movimento comercial a maior parte da renda destinada aos vencedores dos Prêmios FCW.

Cerca de 900 pessoas acompanharam a cerimônia de premiação e a apresentação musical

Cerca de 900 pessoas acompanharam a cerimônia de premiação e a apresentação musical

Para conceder os prêmios de Ciência e Cultura, a fundação mantém os seguintes parceiros, responsáveis pelas escolhas: FAPESP, Academia Brasileira de Ciências (ABC), Academia Brasileira de Letras (ABL), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Comando Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A partir de 2010, a Academia Nacional de Medicina e o Conselho Nacional de Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) se tornarão parceiros. Integram ainda a Comissão Julgadora representantes dos ministérios da Agricultura, da Cultura, da Ciência e Tecnologia, da Educação, do Meio Ambiente, da Saúde, da Pesca e da Defesa (por meio da Marinha).

Na concessão do prêmio de Arte, a comissão julgadora é formada por fotógrafos e publicitários de renome internacional, vinculados à Associação dos Profissionais de Propaganda, revista About, Biblioteca Nacional, Fundação Armando Álvares Penteado, Fotosite, Museu da Imagem e do Som e Universidade de São Paulo.

Além da premiação, o apoio às instituições parceiras tornou a fundação uma participante obrigatória no fomento à pesquisa e à divulgação da ciência. O Prêmio Almirante Álvaro Alberto, do CNPq, é patrocinado pela FCW, que também concede nove bolsas complementares no exterior para os ganhadores dos Grandes Prêmios Capes de Teses e uma bolsa de graduação em música, de quatro anos, na Universidade de Indiana (EUA). Com a ABC, bancou cinco edições anuais dos Anais da Academia Brasileira de Ciências e apoiou a publicação dos livros Amazônia e Educação. Com a FAPESP, publica sempre em outubro este suplemento especial, completando agora seis anos de parceria.

Como as atividades da fundação se expandem ano após ano, apenas uma parte delas está resumidamente exposta nesta edição. Em especial, o perfil dos ganhadores do Prêmio FCW 2008 de Ciência e Cultura (a partir da página 20), a festa na Sala São Paulo (página 16), com a apresentação de Cesar Carmargo Mariano e Céline Imbert, e as excepcionais fotos dos ganhadores no quesito Arte (página 36), além da tradicional biografia de Conrado Wessel (página 8), sempre com novas imagens e informações. Também em outubro a FCW lançará o livro com os trabalhos de todos os fotógrafos finalistas, uma referência no setor.

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