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carta da editora | 336

Biomas e uso da terra

É bem possível que você não conheça o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (PNMT). Afinal, são 74 os integrantes dessa categoria (definida na Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza), todos administrados pelo ICMBio. Localizado nos estados do Amapá e do Pará, na fronteira norte do país, em área ocupa o primeiro lugar entre os parques nacionais brasileiros e é o maior em florestas tropicais do mundo. Inabitado, é considerado a região de floresta tropical menos impactada pela ação humana, o que o torna atraente para pesquisas científicas.

O superlativo parque também é lar das maiores árvores brasileiras: enquanto na Amazônia central as mais altas não costumam ultrapassar 60 metros, no PNMT já foram vistos exemplares com 80 metros. Identificadas apenas em 2016, essas árvores representam um enigma científico que intriga pesquisadores. Até a virada do milênio, não se previa a existência de indivíduos com essa altura em regiões tropicais. Pensava-se que hidratar e nutrir uma árvore dessas dimensões demandaria um clima mais ameno.

No contexto de um estudo que procura entender as reações fisiológicas da floresta amazônica às mudanças climáticas, coordenado por cientistas da britânica Universidade de Exeter, uma equipe composta por pesquisadores, técnicos, guias locais e o gestor do PNMT passou uma semana no Amapá, estabelecendo as bases de um monitoramento de longo prazo. A região visitada abriga uma diversidade de espécies de árvores grandes, como o angelim-vermelho, no qual os galhos mais baixos ficam a 20 metros do chão. No final de outubro passado, a editora de Ciências Biológicas, Maria Guimarães, e o fotógrafo Léo Ramos Chaves, de Pesquisa FAPESP, acompanharam a expedição, pegando avião, carro e voadeira, para produzir a reportagem especial que ilustra a capa desta edição.

Em 2023, a área desmatada na Amazônia caiu quase 50%; no Cerrado, durante o mesmo período, cresceu 43%, segundo dados do Inpe. Em entrevista, o engenheiro florestal Tasso Azevedo, coordenador-geral da iniciativa MapBiomas, explica a diferença entre as dinâmicas nos dois biomas. Idealizador do Fundo Amazônia em 2008, em 2015 Azevedo foi um dos criadores do MapBiomas, com o objetivo de levantar dados que permitissem um olhar para além dos números de desmatamento, como a transição do uso da terra. O destino de uma área desmatada, se virou pastagem, lavoura ou foi abandonada, é informação essencial para o desenvolvimento de políticas públicas.

Pouco mencionado na discussão dos números nacionais de desmatamento, o Pampa, bioma típico da metade meridional do Rio Grande do Sul, perdeu 30% de sua vegetação nativa desde meados da década de 1980. Dados do MapBiomas mostram que as áreas campestres, a essência desse bioma, são as mais afetadas – em comparação com as florestadas –, cedendo espaço para a agropecuária. Infografia à oferece um registro de fácil visualização dessa mudança no uso da terra.

Encerrando em um tom mais leve, a trajetória de mulheres pioneiras do design nacional é objeto de reportagem à página 82. A percepção do trabalho têxtil como uma atividade de natureza feminina abriu espaço para uma atuação associada a artefatos têxteis como figurinos e cenários, além de tapetes e tecidos para revestimento de móveis, destinados à incipiente decoração modernista.

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