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Reconhecimento

Carlos Joly, professor emérito da Unicamp, vence o Prêmio FCW de Ciência 2022

Idealizador do Programa BIOTA-FAPESP foi selecionado por um júri composto por grandes nomes da ciência brasileira. As inscrições para o Prêmio FCW de Arte ainda estão abertas

Léo Ramos Chaves/ Revista Pesquisa FAPESPO pesquisador, fotografado para entrevista de Pesquisa FAPESP em 2021Léo Ramos Chaves/ Revista Pesquisa FAPESP

O professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Carlos Alfredo Joly foi anunciado na terça-feira (21/06) como o vencedor do Prêmio FCW de Ciência 2022, que teve como tema “Clima, Meio Ambiente e Biodiversidade”. Promovida pela Fundação Conrado Wessel, a iniciativa visa distinguir personalidades de destaque, com trabalho de reconhecido valor para o desenvolvimento científico ou tecnológico do país.

Joly foi escolhido por um júri composto por grandes nomes da ciência brasileira, entre eles Helena Nader (Academia Brasileira de Ciências – ABC), Glaucius Oliva (Universidade de São Paulo – USP), Luiz Davidovich (Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ), Marcello Barcinski (UFRJ e USP), Marcelo Knobel (Unicamp), Marco Antonio Zago (FAPESP), Marta Teixeira (USP), Soraya Smaili (Universidade Federal de São Paulo – Unifesp) e o Almirante Paulo Cesar Demby Correa (Marinha do Brasil). O pesquisador receberá a homenagem em cerimônia prevista para ocorrer em outubro, na capital paulista.

“Foi uma enorme surpresa, pois não sabia que meu nome estava entre os indicados. Fiquei muito feliz e emocionado. É um reconhecimento importante”, disse Joly à Agência FAPESP.

Nader, que é presidente da ABC e coordenou o corpo de jurados da atual edição do prêmio, destacou o “olhar social” da Fundação Conrado Wessel ao escolher prestigiar a área de meio ambiente e biodiversidade. “Não poderiam ter selecionado assunto melhor e mais atual. E o ganhador representa tudo que há de melhor na comunidade mundial nessa área”, afirmou.

Graduado em ciências biológicas pela USP em 1976, Joly fez mestrado na Unicamp em 1979 e doutorado em ecofisiologia vegetal na University of St. Andrews (Escócia), em 1982. Atuou como professor e pesquisador nas áreas de ecofisiologia vegetal e conservação da biodiversidade. Em 1999, ao lado do professor da USP Naercio Menezes, propôs ao Conselho Superior da FAPESP a criação de um programa de pesquisa para mapear a biodiversidade do Estado de São Paulo. E assim teve início o BIOTA-FAPESP.

“O BIOTA sem dúvida foi um marco na minha carreira e também na forma de organizar a pesquisa em biodiversidade. Na FAPESP não havia, até então, esse tipo de programa voltado a fomentar estudos em uma área específica. E foi um sucesso tanto no que se refere ao avanço do conhecimento, como em termos de publicações de alto impacto, formação de recursos humanos e diálogo com formuladores de políticas públicas voltadas à conservação da biodiversidade. Creio que isso tenha motivado a FAPESP a criar, posteriormente, programas similares dedicados a temas como bioenergia, mudanças climáticas e, mais recentemente, e-science”, afirmou Joly.

O presidente da FAPESP disse ver com “grande entusiasmo” a retomada do Prêmio FCW de Ciência, um apoio importante à ciência e tecnologia no país. “Temos muita satisfação que o contemplado seja o professor Joly, o idealizador de um dos mais bem-sucedidos programas estratégicos da FAPESP”, comentou Zago.

O trabalho realizado no âmbito do BIOTA-FAPESP garantiu visibilidade internacional aos pesquisadores envolvidos, de acordo com a avaliação de Joly. “E isso possibilitou que eu participasse da criação da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos [IPBES] e de sua consolidação”, acrescentou.

Fundada em 2012, a IPBES é uma entidade internacional que atua na interface entre a ciência e a tomada de decisão política. Diversos pesquisadores ligados ao BIOTA-FAPESP têm participado na última década de diagnósticos sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos elaborados no âmbito da plataforma. Joly já esteve à frente do Painel Multidisciplinar de Especialistas (MPE, na sigla em inglês) da IPBES e, atualmente, é coordenador da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES). Além disso, integrou durante seis anos o Comitê Científico do Inter-American Institute for Global Change Research (IAI), entidade com a qual ainda colabora. Participou, por exemplo, da criação e implantação do Programa Science, Technology, Policy (STeP), que tem o objetivo de treinar jovens pesquisadores para atuar na interface entre ciência, política e diplomacia científica.

Ao longo de sua trajetória, o professor da Unicamp teve a oportunidade de colaborar com o governo em nível estadual e federal. Assumiu a Coordenadoria de Informações Técnicas, Documentação e Pesquisa Ambiental da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo em 1995, ficando responsável pela gestão de todas as Unidades de Conservação do Estado e dos institutos Botânico, Florestal e Geológico. Entre 2011 e 2012, foi diretor do Departamento de Políticas e Programas Temáticos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).

Recebeu o Prêmio Henry Ford em 1999 (Iniciativa do Ano na Área de Conservação). Em agosto de 2002, foi agraciado com a Ordem do Mérito Científico, classe comendador. Em 2005 ganhou o Prêmio Ambiental von Martius da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha. Em 2007 recebeu a Menção Honrosa do Prêmio Jovem Cientista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e, em 2012, o Prêmio Muriqui da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.

“Este novo prêmio é mais do que merecido. Joly é uma pessoa que realmente se dedica ao avanço da ciência, à formação de pessoas e é muito preocupado com o nosso meio ambiente e o nosso futuro. É uma alegria ter participado do júri que o elegeu”, disse Knobel.

Barcinski contou que a reunião da comissão julgadora foi “muito positiva” e teve três turnos de votação. “É uma discussão bastante ampla e vários critérios são utilizados para escolher o ganhador. Certamente sua qualidade como cientista, como humanista e o alcance social do trabalho desenvolvido têm muito peso.”

Retomada

Entregue pela última vez em 2014, o Prêmio FCW de Ciência volta a ser concedido em 2022. Os concorrentes são indicados pela própria comissão julgadora e depois avaliados com base em diversos aspectos, como inovação, abrangência social do trabalho e sua contribuição para o desenvolvimento científico ou tecnológico do país.

“Estou muito feliz de ter conseguido retomar a premiação. Ela foi interrompida durante alguns anos em parte pela pandemia, mas também por questões econômicas. E o tema escolhido este ano é absolutamente atual e relevante, não só para o país como em nível internacional”, disse presidente da Fundação Conrado Wessel, Erney de Camargo.

A entidade também traz de volta o tradicional Prêmio FCW de Arte, como ressaltou o linguista Carlos Vogt, coordenador cultural da Fundação Conrado Wessel e ex-presidente da FAPESP.

“As inscrições estão abertas e os três finalistas serão anunciados na mesma cerimônia em que será entregue o Prêmio FCW de Ciência ao professor Joly, em outubro”, contou Vogt.

O Prêmio FCW de Arte está aberto a fotógrafos de todo o Brasil, que podem submeter ensaios fotográficos com o tema “Clima, Meio Ambiente e Biodiversidade”.

Os ensaios devem ser compostos por dez fotografias de acordo com o tema geral, de conteúdo etnográfico, paisagístico, ecológico e socioambiental desenvolvido em território brasileiro. O portfólio encaminhado digitalmente para avaliação deverá conter fotografias de um mesmo trabalho e não fotografias avulsas e sem conexão. O ensaio fotográfico deve ter sua produção realizada e comprovada a partir de 1º de janeiro de 2020.

Serão selecionados entre os inscritos os três melhores ensaios fotográficos, considerados os finalistas. Os ensaios fotográficos serão avaliados quanto aos seus aspectos técnicos, à beleza, composição, forma, originalidade, qualidade cultural, unidade de conjunto (edição e narrativa) e quanto à capacidade de comunicar o tema sem o auxílio de texto.

A escolha dos vencedores será feita a partir da indicação do júri de seleção, do voto popular pela internet e do voto dos participantes em cerimônia de premiação a ser realizada em outubro. Os prêmios serão de R$ 60 mil (para o primeiro lugar), R$ 25 mil (segundo lugar) e R$ 15 mil (terceiro lugar).

As inscrições serão recebidas até 10 de setembro.

Mais informações: www.fcw.org.br/fotografia.

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

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