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Sociedade

Catadores de lixo

A reciclagem do lixo urbano traz indiscutíveis vantagens ambientais e econômicas à sociedade. No entanto, ao entrevistar dez catadores de lixo reciclável do município de Goiânia, o estudo “Catador de material reciclável: uma profissão para além da sobrevivência?”, de Luiza Ferreira Rezende de Medeiros e Kátia Barbosa Macedo, da Universidade Católica de Goiás, revelou que, além do preconceito e da exclusão de ambientes sociais, existe uma enorme precariedade nas relações de trabalho desses profissionais. Estima-se que no Brasil o número de catadores seja de aproximadamente 500 mil – dois terços deles no estado de São Paulo. Eles percorrem em média mais de 20 quilômetros por dia, puxando carrinhos com mais de 200 quilos de lixo, numa jornada cotidiana que muitas vezes ultrapassa 12 horas ininterruptas e lhes rende um ganho diário de R$ 2 a R$ 5. Os trabalhadores entrevistados eram predominantemente analfabetos ou com o ensino fundamental completo, com idades entre 30 e 60 anos. De acordo com eles, a baixa escolaridade e a idade são fatores de exclusão do mercado de trabalho formal. Outra característica comum às demais ocupações informais é a ausência de direitos trabalhistas que implica falta de proteção quando ocorrem problemas de saúde ou acidentes de trabalho. Devido ao trato com o lixo e a carga física, as doenças associadas à atividade foram dores corporais, problemas osteoarticulares e hipertensão. Apesar de considerar a importância do surgimento de cooperativas e associações de catadores, do reconhecimento oficial da atividade como profissão e da criação do Movimento Nacional de Catadores, o estudo questiona a qualidade da inclusão social conquistada e a possibilidade de ela representar apenas mais uma forma transmutada de exclusão. O trabalho aponta para a necessidade de políticas públicas que garantam a inclusão social com qualidade de vida. “Os trabalhadores são a base de um processo produtivo lucrativo, mas não obtêm ganho que lhes assegure uma sobrevivência digna”, concluem os pesquisadores.

Psicologia & Sociedade – vol. 18 – nº 2 – Porto Alegre – mai./ago. 2006

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