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Entrevista

CeT e o setor produtivo

A articulação entre a pesquisa científica e o desenvolvimento econômico de São Paulo deve ser intensificada com a transferência de tecnologia, abertura de linhas de crédito e ampliação de mercados, principalmente para a pequena e média empresa. Para o secretário da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo (SCTDE), José Aníbal, este é o grande desafio de sua gestão. Segundo ele, São Paulo tem uma enorme capacidade empreendedora e uma massa crítica de excelente qualidade para casar a tecnologia que gera com os diferentes setores da economia, beneficiando diretamente o cidadão através da melhor relação qualidade/preço.

“A pesquisa básica não deve ser abandonada, mas queremos acoplar muito mais do que é produzido hoje por nossa Ciência e Tecnologia ao processo produtivo”, resume. Na sua opinião, para atingir esse objetivo, programas de estímulo à inovação tecnológica, como os que a FAPESP já vem incrementando, devem ser melhor explorados à medida em que os diagnósticos da Secretaria evoluírem. “Precisamos identificar os nós para poder desatá-los e, para isso, iremos disponibilizar uma informação ampla sobre o setor de Ciência e Tecnologia do Estado a todos os interessados.”

De acordo com o secretário, há uma cultura que não aproxima as universidades e os centros de pesquisa paulistas do setor produtivo e é necessário promover ações específicas para informar pequenos e médios empresários sobre os recursos de que eles podem dispor nas universidades estaduais e institutos de pesquisa paulistas. Isso pode fortalecer a imagem dessas instituições e colocá-las em posição mais privilegiada para discutir seus problemas atuais mais importantes. “O efeito multiplicador dessa medida deve ser muito grande. O contato com as empresas também poderá habilitar a universidade para estabelecer novas parcerias, prestar serviços e obter resultados financeiros disso”, conclui José Aníbal.

Um exemplo de bons resultados quando esta rede de informações funciona com eficiência, segundo o secretário, é o projeto Prumo – Projeto de Unidades Móveis de Atendimento Tecnológico às Pequenas Empresas do Setor Plástico , financiado pela FAPESP no âmbito do Programa de Inovação Tecnológica em Parceria e desenvolvido em parceria entre o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), o Sebrae – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo e o Instituto Nacional do Plástico (INP). Desde o dia 15 de março o Prumo começou a operar veículos utilitários dotados de equipamentos de ensaio e uma equipe formada por um engenheiro e um técnico.

O objetivo do projeto é levar tecnologia às pequenas empresas transformadoras de plástico, preparando-as para ganhar novos mercados dentro e fora do país. A Secretaria tem dois principais universos de ação. O primeiro inclui ações para atrair novos investimentos, ampliar os já existentes e solucionar os problemas que possam, eventualmente, levar empresas estabelecidas em São Paulo a sair do Estado. Nesse sentido, o secretário afirma que se dedicará menos à elaboração de planos, para trabalhar mais fortemente sobre os já existentes.

O segundo universo, que engloba a integração competitiva das pequenas e médias empresas através da incorporação de tecnologia ao processo produtivo, vai mais além. A Secretaria pretende agir diretamente na obtenção de crédito dirigido ao investimento, capital de giro e comercialização para revitalizar essas empresas. Para isso, de acordo com o secretário, a Nossa Caixa Nosso Banco já está credenciada junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),  e o Banco do Brasil já demonstrou interesse em criar uma linha especial de financiamento voltada exclusivamente para setores como os de calçados, plásticos, têxtil, metalmecânica e cerâmica.

Outra frente de atuação envolve o desenvolvimento de mercados, principalmente externos. Nesse ponto, são as exportações que preocupam o secretário. Para ele, essa atividade não pode ser entendida como secundária, mas como condição fundamental para uma integração ativa, e não subalterna, ao mercado globalizado. Apesar de ter superado em mais de 100% as expectativas na primeira gestão do governador Mário Covas, José Aníbal acredita que o Estado tem todas as condições de atrair ainda mais recursos da iniciativa privada, mas prefere não quantificá-los. “O investimento virá. Só precisamos criar um ambiente propício para isso.”

“São Paulo tem mercado, recursos humanos, infra-estrutura e uma enorme disposição do governo para disputar esse investimento. Não vamos entrar na guerra fiscal, mas também não ficaremos contemplativos. Vamos agir”, conclui. No futuro, o secretário acredita que São Paulo vai se tornar a capital de serviços do hemisfério sul- uma vocação que deve gerar muitos empregos. Para isso, técnicos da SCTDE já estudam alternativas. E uma delas, informa José Aníbal, deve ser posta em prática ainda este ano: um convênio com a Agência Nacional do Petróleo para criar uma extensão, na área química, da Escola Politécnica da USP na região do ABC paulista. “Essa estrutura consolidará o pólo petroquímico do ABC”, prevê o secretário.

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