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Opinião

Ciência para um Brasil soberano e sustentável

É muito provável que a maior diferença entre a globalização deste fim de século e a revolução industrial resida no papel fundamental desempenhado pela ciência para o desenvolvimento, como alavanca para a indústria moderna. Pode-se afirmar que a ciência desenvolveu-se correndo atrás das invenções da revolução industrial, com a imaginação dos cientistas sendo estimulada pela necessidade de se obter novos equipamentos e produtos. Foi nesse ambiente que se desenvolveu a ciência acadêmica, aparentemente despolitizada e descompromissada com a tecnologia.

Hoje, no entanto, é a ciência que está se constituindo no divisor de águas entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos. Ninguém pode ignorar que o conhecimento científico contribui fundamentalmente para o grande salto tecnológico-industrial deste final de século. A noção de riqueza, de progresso, no mundo globalizado, faz com que se manifestem em paralelo a capacitação científica, o desenvolvimento tecnológico agroindustrial e em informática, o acúmulo de capital e o poder político.

Se é verdade que a maioria das nações está rediscutindo o papel social do Estado, também é mais verdadeiro que todos os países ricos estruturaram o seu desenvolvimento econômico sob uma forte intervenção do Estado. Nesse sentido, é extremamente grave que o governo brasileiro não se defina por apresentar um plano estratégico de desenvolvimento científico e tecnológico.

Refém da concepção neoliberal de mercado, o governo pode estar levando a nação a um restritivo processo de modernização de nossa capacidade produtiva – limitada basicamente àqueles setores onde é possível estimular um aumento da eficiência industrial e o controle de qualidade dos produtos. O capital internacional tem investido em nosso mercado com base em tecnologia importada e mão-de-obra barata. Este modelo pode tornar-se cruel e predatório, na medida em que o neoliberalismo descaracteriza o Estado, suprimindo o seu papel indutor e de planejamento estratégico.

Numa noção didática do investimento ideal sustentável, podemos dizer que este deve envolver, ao mesmo tempo, os lucros do capital, o político, o social e o ambiental. Metas inalcançáveis sob a égide neoliberal da ditadura de mercado, na qual o investimento está voltado para o lucro máximo em tempo imediato.

Dessa maneira, é fundamental que o governo – sob pressão e auxiliado pela sociedade – defina urgentemente um projeto de desenvolvimento científico/tecnológico e sustentável para o Brasil, garantindo capacitação tecnológica, competitividade e qualidade de vida/justiça social para nosso povo. É nessa direção e com esses compromissos que se fortalece o nascente movimento nacional, suprapartidário e supraideológico, em defesa do sistema nacional de Ciência e Tecnologia.

Consciente de sua responsabilidade nesse processo, a SBPC está constituindo o seu Fórum pela Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Nacional, a fim de estimular a discussão entre a comunidade científico-tecnológica e os agentes políticos. O objetivo maior é chegar às propostas da SBPC que contribuam à definição de uma política estratégica coerente de desenvolvimento científico, tecnológico e agroindustrial para o Brasil.

Sérgio Henrique Ferreira é presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC

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