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Carreiras

Combatendo o sofrimento

Pesquisador brasileiro é indicado para prêmio internacional por seus estudos envolvendo dores crônicas

Arquivo pessoal Cunha, ganhador do Patrick D. Wall Young Investigator Award for Basic Science em 2020Arquivo pessoal

Thiago Mattar Cunha tornou-se, no início deste ano, o primeiro brasileiro a conquistar o prêmio Patrick D. Wall Young Investigator Award for Basic Science, mantido pela International Association for the Study of Pain (Iasp), com sede nos Estados Unidos, e que homenageia jovens pesquisadores de destaque em uma área relativamente nova do conhecimento, a dos estudos sobre dor. O cientista tem 38 anos e é professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP).

A escolha, cuja premiação tem cerimônia prevista para acontecer em junho do próximo ano, em Amsterdã, na Holanda, levou em conta a extensa produção científica de Cunha na área – em especial, os estudos envolvendo dores crônicas. Mineiro de Passos, ele integra a equipe do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (Crid), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) financiados pela FAPESP, com o objetivo de aprofundar o conhecimento científico sobre doenças inflamatórias.

A dedicação de Cunha aos estudos da dor teve início em 2001, quando cursava o terceiro ano de farmácia e bioquímica na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da USP. “Durante a iniciação científica comecei a investigar métodos de avaliação da dor em camundongos, passando depois a me dedicar especificamente aos estudos da dor inflamatória”, recorda. No mestrado, iniciado em 2004, Cunha pesquisou os mecanismos envolvidos na gênese da dor inflamatória e suas relações com as citocinas, proteínas secretadas por células do sistema imunológico durante a inflamação que são responsáveis pelo surgimento da dor. No estudo, identificou uma forma de neutralizar as citocinas com o uso de medicamentos imunobiológicos, o que gera alívio significativo da sensação dolorosa.

A imersão no campo da neurociência aconteceu durante o doutorado, também desenvolvido na FMRP, quando estudou os mecanismos moleculares da ação analgésica de opioides, substâncias sintéticas utilizadas na fabricação de drogas como a morfina, por exemplo. “Existia na literatura a informação de que os opioides, além de terem efeito analgésico no sistema nervoso central, também poderiam agir de forma periférica. Porém esses mecanismos ainda não eram compreendidos”, afirma.

Apesar de seu importante papel como sintoma, ou seja, na indicação de doenças no organismo, a dor pode assumir aspecto crônico quando é proveniente de uma disfunção do sistema nervoso. “Nesse caso, a dor resultante de um processo lesivo ou inflamatório persiste no sistema nervoso central ou periférico mesmo após o paciente estar curado e torna-se uma enfermidade, conhecida como dor crônica”, explica. A existência de remédios que tratam a dor crônica, no entanto, ainda não garantem os mesmos efeitos em todos os pacientes. “Muitos deles não respondem de forma plena aos medicamentos. Por isso, buscamos desenvolver novas moléculas que possam melhorar essa resposta”, completa.

Cunha também chamou a atenção da comunidade científica ao estudar, em conjunto com pesquisadores da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, o surgimento de fios brancos em camundongos com pelagem escura e que passaram por estímulos dolorosos de forma aguda, confirmando a hipótese de que o estresse leva à perda precoce da coloração dos pelos. A descoberta foi publicada na revista científica Nature em janeiro deste ano.“Agora será preciso descobrir se os resultados se aplicam a seres humanos”, conclui.

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