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Conrado Wessel

Conhecimento indispensável

Estudos na Escola Politécnica forneceram a base técnica para Conrado Wessel criar fábrica de papel fotográfico

Wessel no Jardim da Luz, fotografado por lambe-lambe no início dos anos 1920: contatos de venda eram feitos pelo inventor

Acervo FCW Wessel no Jardim da Luz, fotografado por lambe-lambe no início dos anos 1920: contatos de venda eram feitos pelo inventorAcervo FCW

Ubaldo Augusto Conrado Wessel, instituidor da Fundação Conrado Wessel (FCW), fez nos seus últimos anos de vida uma anotação em que louvava os professores da Escola Politécnica de São Paulo, incorporada à Universidade de São Paulo (USP) em 1934. “Os conhecimentos que adquiri quando estudei em Viena, a fotoquímica e a fabricação de clichês estavam longe de poder me aventurar a uma empresa de tal porte, ou seja, a fábrica de papéis fotográficos”, escreveu. “Para me aperfeiçoar em química, meu pai conseguiu que eu frequentasse, como ouvinte, as aulas de química na Escola Politécnica. Lá, eu aprendi muita coisa; os professores eram muito gentis e dedicados. Devo aqui externar o meu sincero agradecimento aos drs. Höttinger, Lindenberg, Wanderley e Magalhães. A eles devo o que aprendi.” O reconhecimento da competência e o elogio aos professores ganham especial relevo este ano, quando a USP completa 80 anos.

Wessel (1891-1993) frequentou a Poli como aluno e auxiliar de laboratório do professor Roberto Höttinger, entre 1915 e 1919. Antes ele havia estudado no Instituto K. K. Lehr und Versuchs Antstalt, de Viena, na Áustria, de 1911 a 1913, à época, a melhor escola d o mundo para aprender sobre fotografia, clicheria e inovações tecnológicas trazidas pela descoberta dos raios X e da fotoquímica. Wessel foi aluno de José Maria Eder, inventor, professor de fotoquímica e fotometria, um dos primeiros a desenvolver a fotografia de raios X e também um dos pioneiros a usar a técnica em zoologia, arqueologia e na medicina forense. Sua influência sobre o aluno sul-americano foi grande e reconhecida – era comum o professor escolhê-lo para ajudar em trabalhos no seu laboratório. As experiências de Eder influenciaram o estudante a buscar uma nova fórmula capaz de reproduzir as fotos em papel, vidro, plástico ou outros materiais sensíveis à luz.

Embora excelentes, os estudos realizados na Áustria não bastavam para o que Wessel almejava. Foi o conhecimento adquirido em São Paulo com Höttinger, na Poli, que consolidou suas pesquisas. O jovem inventor conseguiu dois feitos depois de terminados todos os cursos: a patente de um novo papel fotográfico, em 26 de outubro de 1921, e a instalação de sua primeira fábrica. Nada foi fácil. Wessel enfrentou grandes dificuldades ao tentar entrar no mercado dominado pelas empresas Kodak, Agfa e Gevaert. Ele gostava de usar a imagem de uma abelha e de um cão para expressar como se sentia brigando contra os gigantes do setor.

Foi no Jardim da Luz que o inventor fazia contatos de venda direta para os fotógrafos lambe-lambes. Os esforços frutificaram. Quando eclodiu a Revolução de 1924 houve escassez de produtos em São Paulo. Um fotógrafo conhecido como Russo lembrou-se de Wessel e adquiriu todo seu papel fotográfico. “Russo comprou as 150 caixas que ainda tinha em estoque, e me disse: ‘Fabrique mais, muito mais, o material é excelente’.” Foi o que ele fez: “Criei alento e tratei de produzir o máximo. Assim, a revolução que estourou em São Paulo em junho de 1924 permitiu que a indústria fotográfica brasileira não morresse no seu nascedouro”.

Cartão-postal enviado para o pai quando estudou em Viena, entre 1911 e 1913

Acervo FCW Cartão-postal enviado para o pai quando estudou em Viena, entre 1911 e 1913Acervo FCW

A partir de 1924, com prestígio assegurado entre os profissionais da fotografia, sua história tomou outra direção. A fábrica de papel cresceu e Wessel legou o patrimônio acumulado, décadas depois, à criação da FCW. O patrimônio foi triplicado pelos atuais administradores e continua a expandir o patrocínio às atividades sociais transformadoras. Hoje a FCW mantém as já conhecidas doações anuais a entidades cuja relação o próprio Wessel definiu em seu testamento: o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo, a Fundação Antonio Prudente, o Serviço de Promoção Social do Exército de Salvação, as Aldeias Infantis SOS do Brasil, a Escola Benjamin Constant e mais 27 entidades que atendem crianças carentes.

O Corpo de Bombeiros recebe a maior porção das cotas anuais da FCW por intenção de seu fundador. Em 2014, mais de 40 bombeiros divididos em três grupos se aperfeiçoarão no exterior com patrocínio da fundação. Um grupo seguiu para Indianápolis, nos Estados Unidos, para participar do Fire Department Instructor Conference em abril. Outro grupo seguirá em julho, onde fará um curso especializado na Academia dos Bombeiros, em College Station, no Texas. Por fim, uma terceira equipe estará em Belfast, na Irlanda do Norte, como participante do World Police and Fire Games, em agosto.

São também significativas as contribuições anuais para o Serviço de Promoção Social do Exército de Salvação no resgate dos desamparados e para as Aldeias Infantis SOS Brasil no acompanhamento de órfãos. No mesmo perfil se inclui a doação à Escola Benjamin Constant, em São Paulo, onde Wessel fez seus primeiros estudos. É preciso registrar a doação feita anualmente à Fundação Antonio Prudente, mantenedora do Hospital A.C. Camargo, e a cota anual de entidades que atendem crianças, com a parceria de escolha do Ministério Público do estado. Somadas às anteriores, estas últimas doações chegam a 23.857 famílias atendidas.

Afora as doações, há a promoção às categorias Arte, Ciência, Cultura mediante prêmios (ver página 8), apoio a publicações específicas de cunho internacional, aporte a eventos da mesma linha de atuação e parceria na outorga de bolsas a doutores em cursos pós-doc no exterior. Há atribuição do Prêmio Almirante Álvaro Alberto, em parceria da FCW com a Marinha do Brasil e o CNPq, e as três bolsas complementares pós-doc FCW para as bolsas Capes. No total, até este ano de 2014 foram concedidos 130 prêmios e bolsas. E ainda cabe lembrar de Moisés Bonella, o aluno que ficou quatro anos na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, mantido com bolsa FCW/Indiana.

Imagem utilizada por Conrado Wessel para mostrar como se sentia (um inseto) ao enfrentar grandes empresas.

Acervo FCW Imagem utilizada por Conrado Wessel para mostrar como se sentia (um inseto) ao enfrentar grandes empresasAcervo FCW

A fundação patrocina as revistas científicas Anais da Academia Brasileira de Ciências (ABC), JATM/Journal of Aerospace Technology and Management (DCTA) e Pesquisa Naval (Marinha do Brasil). Também apoia o Núcleo Fundações por meio do Projeto de Inserção Digital, que já formou mais de 2.400 alunos carentes, e a Fundação Escola Aberta do Terceiro Setor, entidade com mais de mil alunos formados via educação a distância com cursos para monitores administrativos para o terceiro setor.

Tais ações de incentivo têm um traço comum: a certeza de cumprir missão de caráter público indispensável à nação. Para isso, buscam-se novos talentos ao mesmo tempo que se reconhecem os de maior contribuição social ao país.

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