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Pandemia

Covid-19 atinge quase um quinto dos paulistanos adultos

Estudo que monitora soroprevalência de Sars-CoV-2 em São Paulo também mostrou que a doença se dissemina com maior intensidade nas regiões mais pobres da cidade

Rua 25 de março, no centro de São Paulo: pesquisa apontou que 1,5 milhão de moradores da metrópole já teve Covid-19

Léo Ramos Chaves

O novo coronavírus, patógeno causador da Covid-19, já infectou 17,9% dos moradores da capital paulista com 18 anos ou mais. Em termos absolutos, o número de adultos contaminados e que desenvolveu anticorpos ao vírus é de aproximadamente 1,5 milhão, contingente bem superior ao do número oficial de casos confirmados pela prefeitura até hoje, de 246,7 mil. A cidade é o epicentro da pandemia de Sars-CoV-2 no país.

Esse é o principal resultado da terceira fase do projeto “SoroEpi MSP – Inquéritos soroepidemiológicos seriados para monitorar a prevalência da infecção de Sars-CoV-2 no município de São Paulo”, coordenado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, com apoio do Grupo Fleury, Ibope Inteligência, Instituto Semeia e Todos pela Saúde. Os dados foram divulgados hoje (10/9).

Na terceira etapa do estudo, realizada entre os dias 20 e 29 de julho, foram coletadas amostras de sangue de 1.470 indivíduos escolhidos por sorteio. A cidade foi dividida em dois estratos, distritos com maior renda e menor renda, sendo que cada um deles correspondeu à metade da população pesquisada.

Entrevista: Beatriz Tess
     

O levantamento revelou que a soroprevalência (frequência de indivíduos que apresentam anticorpos para o Sars-Cov-2 no soro sanguíneo) varia de acordo com a renda da população, confirmando o que já havia sido detectado na fase anterior da pesquisa, ocorrida entre os dias 15 e 24 de junho. A soroprevalência no estrato de renda média mais alta (acima de R$ 5.540) foi de 9,4%, enquanto entre aqueles com renda média mais baixa (até R$ 3.349), o percentual de infectados é duas vezes maior: 22%. Entre os moradores com renda média intermediária, o índice foi de 18,4%.

O inquérito também mostrou que o vírus atinge mais fortemente os menos escolarizados. Entre a parcela da população que não tem nem o ensino fundamental, 22,5% apresentaram anticorpos contra o vírus, ao passo que no conjunto daqueles que possuem diploma de ensino superior o percentual é de 12%. No quesito raça/cor, 20,8% dos negros e pardos já foram infectados, diante de 15,4% dos brancos.

Parque do Ibirapuera, área nobre da cidade: entre a população de renda mais elevada, soroprevalência para Sars-CoV-2 é de 9,4%

Dois testes conjugados
Uma novidade nessa etapa do inquérito epidemiológico foi a utilização de dois testes para identificação de anticorpos contra o Sars-CoV-2. Além do ensaio Maglumi IgM e IgG, do laboratório chinês Snibe, que já havia sido empregado na fase anterior do estudo, os pesquisadores também submeteram as amostras de sangue ao exame Elecsys, da farmacêutica suíça Roche, que detecta anticorpos totais por outra técnica de eletroquimioluminescência – o Maglumi IgM e IgG é processado por quimioluminescência.

“O teste da Roche detecta anticorpos diferentes e reage com áreas distintas do vírus”, afirmou o biólogo Fernando Reinach, um dos coordenadores do inquérito, durante entrevista coletiva realizada nesta segunda-feira (10/9). “Ao usar um teste só, subestimamos o número de pessoas que teve contato com o vírus. Com os dois testes combinados, usamos uma metodologia melhor e chegamos mais próximos do número real de infectados na cidade de São Paulo.”

A segunda fase do levantamento, realizado 35 dias antes da atual, identificou que 11,4% dos participantes do estudo tinham anticorpos para a Covid-19. Comparando esse resultado ao da etapa 3 do levantamento, a soroprevalência cresceu 56%. No entanto, cotejando apenas os resultados obtidos pelo teste de quimioluminescência da empresa chinesa Snibe na segunda e terceira fases, não foi possível identificar mudanças estatisticamente significantes de soroprevalência na cidade. O percentual de infectados agora, com o uso apenas do resultado do teste de quimioluminescência, foi de 11,5%, uma variação de apenas 0,1% no período.

“O mais provável é que tenha tido algum aumento, mas que ele esteja dentro da faixa de erro [da pesquisa]”, sustenta Reinach. “Da primeira fase para agora, o número de casos na cidade multiplicou-se por quatro, enquanto da segunda para a terceira fase, o aumento foi de 40%, 60%. O dado do estudo é compatível com o que estamos observando na cidade, que já passou pelo seu pior momento.”

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