Imprimir Republicar

Recursos humanos

Crescimento da pós-graduação desde os anos 1990 melhora a distribuição regional dos cursos

Estudo do CGEE também mostra avanço na participação de mulheres entre doutores formados

Trabalho em laboratório do Instituto de Química da USP: aumento na proporção de doutores na população brasileira

Marcos Santos/USP Imagens

O estudo Brasil: Mestres e Doutores 2024, divulgado hoje (4/6) pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), mostra que o sistema brasileiro de pós-graduação, embora tenha sofrido uma desaceleração em sua capacidade de formar profissionais de alto nível desde a pandemia, ostenta um notável crescimento acumulado desde a década de 1990. No período entre 1996 e 2021, ampliou quatro vezes o número de cursos e concedeu 1.001.861 títulos de mestre e 319.211 de doutor. Os dados também apontam uma participação feminina cada vez maior entre os titulados e uma distribuição regional mais equilibrada dos programas de pós-graduação, que antes eram fortemente concentrados na região Sudeste.

A região Sul dobrou sua participação na distribuição nacional dos cursos de doutorado em um período de 25 anos: foi de 11,1% do total em 1996 para 22,2% em 2021. Da mesma forma, a região Norte foi de 1,3% para 4,3%, o Centro-Oeste, de 2,5% para 7,6% e o Nordeste de 5,9% para 16,4%, O Sudeste ainda responde por quase metade (49,6%) dos cursos de doutorado, em 2021, mas sua participação em 1996 era de 79,2%.

Em 1996, 12 unidades da federação ainda não dispunham de cursos para titular doutores – já em 2021, todos os estados tinham programas de doutorado formando estudantes. Um destaque é o Rio Grande do Norte. Em 1996 não formava doutores, mas em 2021 concedeu 14,4 títulos de doutorado por 100 mil habitantes, mais do que a média nacional, que é de 10,2 títulos por 100 mil habitantes. Entre as áreas do conhecimento, a que registrou maior crescimento foi a multidisciplinar: era a responsável por 1,3% dos títulos de mestrado e 0,1% dos de doutorado em 1996 e subiu sua participação para, respectivamente, 16,6% e 10% em 2021. Em contrapartida, as grandes áreas de ciências biológicas, engenharias e ciências exatas e da Terra perderam participação relativa no período.

Alexandre Affonso/Revista Pesquisa FAPESP

O impacto da Covid-19 no sistema nacional de pós-graduação foi maior do que o observado em outros países. Com o fechamento de laboratórios para cumprir o isolamento social e o aumento do prazo para concluir a titulação, a queda do número de doutores formados em 2020 chegou a 18%, ante uma retração de 0,6% nos Estados Unidos e de 3% na média dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Já entre os mestres, a redução foi de 14% no Brasil em 2020, enquanto nos Estados Unidos e nas nações da OCDE o número de titulados ficou estável. “Houve uma queda importante, que contrasta com uma sucessão de taxas positivas nas últimas décadas. É preciso pensar no futuro e criar estratégias para reagir e retomar o fôlego”, afirma Sofia Daher, assessora técnica do CGEE que coordenou o estudo (ver reportagem “A dinâmica da crise dos doutores”).

Entrevista: Sofia Daher
00:00 / 11:44

Ainda assim, o levantamento registrou um aumento na proporção de doutores na população brasileira: de 7,9 titulados por grupo de 100 mil habitantes em 2013 para 10,4 em 2021. Nos Estados Unidos, há 21,9 doutores por 100 mil habitantes e no Reino Unido 37,4. O trabalho também mostra que a idade média dos concluintes do curso de mestrado chegou a 33,8 anos em 2021 – o patamar é ligeiramente mais alto do que o observado em 1996, de 33,4 anos. Já entre os doutores, a idade de titulação diminui de 39,4 anos em 1996 para 37,4 anos em 2021. “Nos países da OCDE, eles se formam 2,1 anos mais cedo do que os brasileiros e, na Alemanha, 5,3 anos”, afirma Daher.

Em 2021, havia no Brasil 9,1 mestres e 4,4 doutores para cada grupo de mil pessoas com emprego formal – essa proporção mais que dobrou em relação ao patamar de 2009. Na comparação com outras nações, contudo, essa participação é tímida. Os países da União Europeia tinham em média, em 2021, 180,7 mestres e 12,9 doutores por mil empregados. O mercado de trabalho dos mestres e doutores tem características peculiares, como mostra o estudo do CGEE. De um lado, é mais resiliente às crises da economia. Em anos em que houve queda do Produto Interno Bruto (PIB), como 2015, 2016 e 2020, as taxas de crescimento de empregos para profissionais com pós-graduação mantiveram-se positivas, na contramão da média do mercado. “Isso tem a ver com o fato de muitos desses profissionais estarem empregados no setor público, mas também por se tratar de um tipo de mão de obra especializada e sofisticada, difícil de substituir”, afirma Daher.

Alexandre Affonso/Revista Pesquisa FAPESP

A assessora técnica destaca a necessidade de criar políticas públicas para ampliar chances de trabalho para os recém-formados – um dos dados do relatório mostra que a proporção de doutores com emprego formal após dois anos de titulação vem caindo: já esteve em 76% do total em 2010, mas, no dado mais recente, de 2021, aparece chega a 65%.Segundo Daher, a maioria dos doutores está empregada em universidades públicas, enquanto o mercado de trabalho para os mestres vem se tornando cada vez mais diversificado, com presença acentuada em empresas privadas.

Um em cada quatro mestres com emprego formal trabalhava em empresas privadas em 2021 – entre os doutores, a proporção era de um em cada oito. Apesar de baixa, a participação cresceu, em comparação com 2009, 58% no caso dos doutores e em 14% dos mestres. No caso destes últimos, as áreas de maior empregabilidade em 2021 foram as de linguística, letras e artes, com 67,1% dos titulados com emprego formal, e a de ciências exatas e da Terra, com 67,0%. Já para os doutores, as maiores taxas foram registradas em ciências exatas e da Terra (78,9%) e ciências sociais aplicadas (77,4%).

O estudo indica que a proporção de mulheres entre os titulados é cada vez maior. Em 1997, elas se tornaram a maioria entre os mestres formados, alcançaram a mesma marca entre os doutores em 2003 e ampliaram a dianteira. Em 2021, estavam 13,6 pontos percentuais à frente dos homens entre os concluintes do mestrado e 11,2 pontos no doutorado. De acordo com os dados do CGEE, o Brasil era o país com maior proporção de mulheres tituladas com doutorado em 2021, com 55,6% do total, um pouco à frente de outros países em que as mulheres também são maioria, como Irlanda, Nova Zelândia, Finlândia, México, Estados Unidos e Portugal.

Republicar