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Carta da editora | 299

Cuidados necessários

A cirurgiã Angelita Habr-Gama se dedica a desenvolver estratégias de tratamento que poupem pacientes com câncer de reto das operações para amputação do órgão. Resultados da pesquisa que seu grupo desenvolve desde os anos 1990 foram publicados no mês passado, mostrando que o paciente pode ser poupado da intervenção quando o tumor regride totalmente com rádio e quimioterapia. A médica passou quase 50 dias internada em uma UTI com Covid-19, recuperou-se e, aos 87 anos, retomou sua rotina como cirurgiã e pesquisadora (ver Pesquisa FAPESP no 298).

Muitas pessoas mantêm longas carreiras e vidas ativas. Mas, com o envelhecimento da população, cresce o número de indivíduos que demandam cuidados, levando vários países a repensar seus sistemas de atenção a pessoas vulneráveis. Além da crescente longevidade, as novas configurações domésticas, com mulheres chefiando lares e trabalhando fora de casa, dificultam que sejam as famílias a assumir os cuidados de parentes sem autonomia.

A reportagem de capa desta edição apresenta o resultado de pesquisas que identificaram arranjos organizados nos últimos 20 anos para amparar pessoas com diferentes graus de dependência, como crianças, idosos e indivíduos com deficiência. Em alguns países, o Estado é o principal ator; em outros, o serviço fica a cargo de instituições privadas; há também os arranjos familiares, que ainda predominam no Brasil.

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As principais candidatas a vacina contra a Covid-19 têm como alvo a proteína S, ou spike, responsável pela entrada do vírus na célula humana. Por isso, mutações no genoma do Sars-CoV-2, principalmente na parte que codifica essa proteína, levantam temores de que novas variantes do vírus possam tornar ineficazes os imunizantes que começam a ser aplicados. Reportagem à página 28 mostra que as alterações genéticas nesses patógenos são bastante comuns e não necessariamente afetam a estratégia imunológica, mas demandam atenção e acompanhamento. A cobertura sobre a Covid-19 desta edição também inclui um panorama dos desafios logísticos a serem enfrentados na distribuição das vacinas, a história das duas startups que produziram os primeiros imunizantes aprovados contra a doença, usando uma tecnologia até então apenas experimental, e o desenvolvimento da CoronaVac, que teve parte dos seus ensaios clínicos realizados no Brasil e é a vacina mais próxima de chegar aos postos de saúde do país.

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Não é de hoje que os rankings permeiam o fazer científico. Em meio à sua profusão, é preciso uma análise detida dos critérios para entender exatamente o que está sendo mensurado. Pesquisadores brasileiros apresentaram um avanço no levantamento anual da Clarivate Analytics, que lista os cientistas com trabalhos altamente citados. O Brasil é o 15º país que mais produz artigos científicos, mas se encontra na 26ª posição em termos de pesquisadores cujos trabalhos receberam muitas citações em 2020. Em 2015, cinco brasileiros estavam na lista; neste ano, passaram a 19. A melhoria se deve a uma mudança muito positiva, da perspectiva da ciência, nos critérios adotados: foram incluídas as chamadas citações extracampo, em que artigos são muito citados por trabalhos de outras áreas do conhecimento.

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O Conselho Editorial, criado em 2011 para apoiar o desenvolvimento da revista, será reformulado. Pesquisa FAPESP agradece a valiosa colaboração de todos os integrantes (ver expediente).

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