A produção científica brasileira não atingiria sequer 1% do total mundial. É o que se diz. Mas, mesmo que fosse verdade, aceitar esses fatos friamente, sem uma análise mais crítica, seria, no mínimo, desprezar uma parte fascinante da nossa história.
O descobrimento ou conquista do Brasil constituiu-se numa das etapas de um processo mais amplo da europeização do mundo, da expansão do capitalismo nascente, com Portugal e Espanha à frente. A lenta transformação das Américas à imagem e ao desejo dos europeus resultou de longos embates frente à resistência dos nativos e à necessidade de moldar a natureza americana aos desígnios dos recém-chegados. Nesse processo, as atividades técnicas e científicas tiveram um peso indubitável.
É do que vamos tratar por partes. O achamento das terras brasileiras deu-se no século XVI, seguindo-se uma época de combates das duas potências ibéricas com países emergentes como a Inglaterra, Holanda e França, no desafio da manutenção de suas hegemonias. Nesse cenário complexo a ciência moderna começou a sua caminhada, lado a lado e intimamente ligada com a ascensão rápida e vertiginosa, mas nada ingênua, da economia capitalista. Hoje, não há mais dúvida de que dois dos fatores fundamentais que fizeram a diferença em detrimento das pretensões espanholas e portuguesas foram a ciência e a tecnologia.
Sem as duas não se poderia compreender o rumo tomado pelos acontecimentos na época moderna e contemporânea. Para atestar isso, basta notar suas presenças flagrantes em eventos cruciais como a Revolução Industrial, no século XVIII, ou a Revolução Técnico-Científica, na passagem do século XIX para XX, só para citar alguns. Ora, se o Brasil fez parte dessa trama histórica, e tudo parece indicar que sim, deve ter desempenhado, também, um papel ou diversos papéis na história da CeT. É óbvio que isso se fez dentro da especificidade do país, no seu canto remoto dos trópicos, sem perder, todavia, a sua importância para a economia mundial.
Qual teria sido, então, esse papel ou esses papéis? A pergunta é fascinante e de difícil resposta. Não existem ainda estudos sistemáticos e de profundidade sobre o assunto e as informações disponíveis são insuficientes e fragmentárias. Entretanto, nos últimos 20 anos, a situação vem mudando. Um bom número de trabalhos, teses e dissertações foi realizado, tendo como tema a história da CeT no Brasil. Assim, já é possível vislumbrar algumas respostas à indagação acima, abrindo novas perspectivas para a compreensão da nossa história sob novos ângulos. Com esse pano de fundo, o objetivo deste artigo é mostrar como o percurso histórico do país, ao longo desses 500 anos, não foi alheio ao desenvolvimento científico e tecnológico, com uma contribuição nada desprezível.
Contudo, não temos a pretensão, de fazer um balanço geral do tema nem de apresentá-lo de forma sistemática. O nosso propósito é muito mais modesto. Esperamos discorrer sobre alguns dos episódios para mostrar a riqueza das atividades técnicas e científicas no solo brasileiro, no decurso desses cinco séculos. Pela limitação inerente a qualquer tipo de escolha, muitos eventos relevantes ficaram de fora, assim como muitos nomes importantes não foram mencionados. Queremos deixar bem claro que a escolha foi feita em função da adequação a este artigo e não por causa da importância intrínseca dos episódios ou dos personagens citados. A história é múltipla, complexa e cambiante – daí o seu fascínio.
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