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carta da editora | 334

De olho na floresta

A Amazônia está em crescente evidência no século XXI. Primeiro, pela reserva de biodiversidade, de valor incalculável para a vida na Terra. Segundo, por seu papel na dinâmica climática, que hoje sabemos ir muito além de suas fronteiras. Os temores com a destruição desse bioma suscitam discussões sobre sua ocupação (e preservação) pelos povos originários e as perspectivas dos quase 30 milhões de habitantes.

O Brasil tem ampla e reconhecida capacidade de monitoramento por satélite. Coleta e análise de dados são feitas por especialistas qualificados que atuam em instituições públicas e no terceiro setor. Essas informações permitem ações imediatas de fiscalização, municiam a elaboração de políticas, embasam negociações internacionais, além de alimentar pesquisas científicas e tecnológicas que por sua vez permitem a produção de mais e melhores dados.

A reportagem de capa desta edição apresenta cinco iniciativas de monitoramento do desflorestamento da Amazônia hoje em ação: as características, diferenças metodológicas e finalidades dos sistemas. Traz, ainda, o sistema do Inpe e da Embrapa que mapeia o uso da terra desmatada naquela região. Após um período de inatividade, a iniciativa voltou a levantar dados, lançando a radiografia do ano de 2020.

O que nasceu como uma proposta de explicar os sistemas de monitoramento existentes, cujos dados amplamente divulgados pela mídia podem causar estranheza por suas divergências, tornou-se um pequeno especial sobre a Amazônia. Nesta edição, são 25 páginas sobre o tema, trazendo segredos geológicos por trás da formação da floresta, um guia de serpentes amazônicas e saguis que mudam sua comunicação por conta de ruídos urbanos.

Traz, ainda, entrevista com a ecóloga Ima Vieira, do Museu Paraense Emílio Goeldi, que estuda a regeneração da floresta. Em um período de preocupação com o bioma e seus habitantes, o primeiro movimento deve ser o de ouvir quem se dedica a estudar as questões amazônicas há tempos, in loco. Vieira integra o grupo que propôs a meta de desmatamento zero até 2030, adotada pelo atual governo federal.

A pesquisadora sustenta que, com 20% de território aberto na Amazônia, não se deve desmatar mais nada. As políticas públicas para a região retratam os interesses conflituosos, e a produtividade das atividades agropecuaristas nessas áreas é muito baixa. Vieira hoje assessora a Finep na construção de políticas públicas para fortalecer o sistema regional de ciência, tecnologia e inovação.

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“É a periferia ocupando a academia”, declararam os Racionais MC’s em 2018, quando seu disco Sobrevivendo no inferno foi definido como obra obrigatória para o vestibular 2020 da Unicamp.

Deus fez o mar, as árvore, as criança, o amor.
O homem me deu a favela, o crack, a trairagem, as arma, as bebida, as puta.
Eu?! Eu tenho uma bíblia véia, uma pistola automática e um sentimento de revolta.
Eu tô tentando sobreviver no inferno.

O grupo paulistano de rap é um dos expoentes do hip hop, movimento social, político e cultural que surgiu há 50 anos em um contexto de precariedade e violência. O hip hop hoje é objeto de estudo em universidades, visto como uma chave para a compreensão da realidade brasileira.

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