Após mais de duas décadas lecionando na Universidade de Passo Fundo (UPF), o professor aposentado Danilo José Savariz decidiu dar um rumo novo à sua vida. Em 2016, aos 68 anos, começou a frequentar as aulas do curso de agronomia na mesma instituição em que trabalhou como docente, graduação que concluiu no final de 2020.
“Era um desejo antigo, já havia cursado agronomia por um ano e meio, mas acabei desistindo para concluir a graduação em engenharia mecânica”, recorda Savariz, surpreso com a acolhida na volta recente à universidade. “Perguntei se poderia estudar nessa idade e me disseram que sim. Fui muito bem recebido”, diz o recém-formado, que também acumula 35 anos de trabalho como engenheiro mecânico na Companhia Estadual de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul (Ceee). Foi com os conhecimentos adquiridos pela nova formação que ele passou a compreender certas questões de seu passado, vivido em uma região rural do Rio Grande do Sul.
Nascido em uma família de pequenos agricultores da cidade de Catuípe, Savariz traz na lembrança as dificuldades que seus pais enfrentaram na lavoura. Primogênito de nove irmãos, quando criança viu uma plantação inteira de trigo ser destruída por uma geada. “A maioria dos produtores daquela área não tinha conhecimentos técnicos sobre plantio, o que levava muitos deles à falência”, recorda Savariz, que nos anos 1960 veria a biodiversidade da região ceder espaço para a monocultura da soja. “A propriedade ficava próxima à mata. Com o passar do tempo, as árvores foram sendo derrubadas, o que reforçou minha impressão de que a vida no campo era algo sofrido.” Viu nos estudos a oportunidade de tentar mudar sua realidade e a de sua família.
Em 1967, ingressou em um curso profissionalizante de construção de máquinas e motores. Durante as aulas, tomou gosto pelas disciplinas técnicas. “Como tinha boas notas, consegui uma bolsa de estudos que na época era oferecida pela Ceee, hoje privatizada. Quando terminei o curso, fui direto trabalhar para eles.” Na empresa, especializou-se em maquinários para produção de energia em usinas diesel-elétricas e hidrelétricas, o que o motivou a buscar a formação de engenheiro mecânico, concluída pela UPF em 1984. Três anos depois tornou-se professor na mesma instituição.
Proprietário de lotes de terra adquiridos entre 1973 e 2012 em Erechim, onde abrigou sua família com a intenção de ajudar os irmãos com os estudos, iniciou um pequeno cultivo de erva-mate. Os conhecimentos obtidos na graduação em agronomia foram essenciais para manter a plantação, atualmente com 140 mil árvores. “Essas mudas são muito sensíveis e dependem de processos específicos de adubação, preparação do solo, cultivo e colheita”, explica. A produção é de 22 mil arrobas a cada 18 meses. “É uma colheita pequena, procuro fazer tudo respeitando o meio ambiente.” Para administrar a plantação de 8 hectares de forma sustentável, Savariz preservou a vegetação original. “Vou deixando a mata aparecer ao mesmo tempo que planto as ervas no meio. É lindo de se ver”, afirma, orgulhoso.
Sobre a experiência de graduar-se aos 73 anos de idade, ele afirma que não teve dificuldade alguma na convivência com colegas de turma e professores. “A agronomia é uma ciência bonita e tem me ajudado a entender muitas coisas do meu passado no campo. Foi a melhor fase da vida para fazer esse curso”, finaliza.
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