Quase 40 anos depois dos primeiros estudos, finalmente os geólogos reuniram fortes evidências de que um meteorito atravessou a atmosfera terrestre, colidiu com a superfície e formou uma cratera de cerca de 7 quilômetros de diâmetro em Nova Colinas, município de 5.500 moradores no sudoeste do Maranhão, entre 200 milhões e 300 milhões de anos.
O que indicou a colisão foram as microdeformações em cristais de quartzo de rochas da cratera, comparadas com os de fora dela, que não apresentavam essas irregularidades. As cicatrizes no quartzo têm a forma peculiar de linhas paralelas com 2 micrômetros de extensão (1 micrômetro equivale a 1 milésimo do milímetro).
As marcas nos cristais de quartzo resultaram de uma pressão estimada em até 30 bilhões de vezes maior que a da atmosfera a nível do mar. Tamanha pressão poderia ser gerada pelo choque de um meteorito ao alcançar a superfície a uma velocidade de 15 quilômetros por segundo (km/s).
“A alta velocidade produz muita energia cinética, equivalente à de várias bombas atômicas”, compara o geólogo alemão Wolf Uwe Reimold, da Universidade de Brasília (UnB) e principal autor do artigo publicado em julho na Meteoritics & Planetary Science detalhando esse trabalho. “As forças normais de formação das estruturas geológicas superficiais não chegam perto dessa magnitude.”
A colisão de um meteorito sobre a superfície da Terra forma bordas como a queda de uma pedra sobre a água. Em Nova Colinas, porém, as margens, que deveriam ser mais altas que o interior, não são muito evidentes. “Como a cratera sofreu muita erosão, tivemos dificuldade para encontrar sinais de choque, mesmo depois de examinar as imagens de satélite”, conta o geofísico Marcos Vasconcelos, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que percorreu a região em setembro de 2019 com Reimold. “As colinas e os afloramentos rochosos não tinham cara de rochas derivadas de um choque meteorítico.”
Chegaram ao local com dúvida e saíram com dúvida, mas colheram amostras de arenito para analisar. Reimold as levou para o Museu de Ciências Naturais de Berlim, onde trabalhava antes de se mudar para a UnB, em 2018. Em Berlim, seus colegas cortaram as rochas e poliram 35 lâminas de 5 por 25 centímetros (cm) e as enviaram para Brasília para análises com microscópio óptico. Seu colega Ludovic Ferrière, do Museu de História Natural de Viena, na Áustria, também as examinou e estimou a pressão a que a rocha teria de ser submetida para fazer o cristal formar as microdeformações.
“A análise das microdeformações é obrigatória como prova científica de que uma cratera foi formada por um meteorito”, diz Vasconcelos. Reimold reitera: “Havia pistas e indicações, mas não argumentos fortes.” Um estudo do Serviço Geológico do Brasil publicado em agosto de 2020 na Journal of the Geological Survey of Brazil havia sugerido que se tratava de uma cratera resultante da colisão de um objeto rochoso vindo do espaço, embora sem apresentar as linhas de rompimento nos cristais de quartzo, que poderiam confirmar essa hipótese.
Cortada por um rio e uma estrada de terra, a cratera de Nova Colinas abriga plantas típicas de Cerrado cercadas por uma floresta densa. As formas da vegetação refletem a diversidade de solos, segundo Teodoro Almeida, da Universidade de São Paulo (USP), que examinou imagens de satélite e fotografias da região.