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Carta da editora

Demonstração inequívoca

Inequívoca. É assim que o sexto relatório do painel da ONU sobre mudanças climáticas (IPCC) descreve a influência da atividade humana sobre o aquecimento da atmosfera, do oceano e da superfície terrestre. A primeira parte do documento, recém-divulgada, sintetiza 14 mil estudos científicos recentes sobre esse fenômeno.

A escolha não é fortuita: o IPCC define de forma precisa os termos que adota. Por exemplo, um evento é caracterizado como “muito provável” quando há entre 90% e 100% de probabilidade que ele ocorra. O rigor também se aplica nas associações de causalidade: o sistema climático da Terra sofreu aquecimento; a atividade humana impacta o sistema climático; o aumento observado da presença de gases de efeito estufa é inequivocamente causado por atividades humanas.

O editor de Ciência, Marcos Pivetta, procurou apresentar com clareza os principais achados desse importante documento para quem não acompanha de perto a questão, cada dia mais urgente. A preocupação em traduzir o consenso científico sobre a gravidade da situação para os formuladores e executores de políticas é apresentada em reportagem complementar.

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A diversidade de temas é uma característica de Pesquisa FAPESP, e esta edição está ainda mais variada. Pouco disseminada, a análise de solos procura se difundir em atividades policiais investigativas. O mistério da ampla distribuição geográfica de cerâmica koriabo, encontrada do Caribe até a região do baixo Amazonas, é alvo de colaboração internacional há cinco anos.

Sobre os meios de produção de ciência, destacamos a busca por novas métricas de avaliação da qualidade do trabalho e do desempenho de pesquisadores e professores universitários, em um esforço para substituir indicadores bibliométricos – objetivos, mas limitados – de amplo uso, como o índice h (página 46). O Sci-Hub, site usado por muitos integrantes da comunidade científica internacional para contornar paywalls de editoras científicas, é objeto de estudo que sugere que os artigos baixados por seu intermédio são mais citados que outros.

A revista segue com sua cobertura sobre a Covid-19, tratando da variante delta e de vítimas indiretas da pandemia – mais de 1,5 milhão de crianças e jovens perderam pelo menos um dos responsáveis pelos seus cuidados.

Os últimos meses têm sido de tristeza na comunidade de ciência e tecnologia. Registramos, a partir da página 84, a morte do filósofo José Arthur Giannotti, do cientista político Francisco Weffort e do matemático Marco Antonio Raupp. Ao fechar esta edição, soubemos da partida precoce de Ruth Helena Bellinghini, jornalista dedicada à cobertura de ciência, que contribuiu com Pesquisa FAPESP. A equipe se solidariza com as pessoas próximas pelas perdas.

Para encerrar em tom mais otimista, a entrevista da historiadora de arte Aracy Amaral é instigante em vários níveis. Especialista em movimentos culturais brasileiros, com destaque para o modernismo, a entrevistada traz reflexões a partir de sua longa trajetória. Identifica, ao seu redor, importantes objetos de estudo em história da arte. Fala dos diálogos culturais (ou da ausência deles) no Brasil e entre o país e América Latina e África. Por fim, reflete sobre a Semana de Arte Moderna de 1922, que ganhou mostra comemorativa de seu centenário no MAM, com sua cocuradoria.

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