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Carta da Editora

Difusão de conhecimento e transformação social

Existem algumas palavras e expressões que circulam em larga escala no ambiente acadêmico carregadas de ambigüidade. Ou mesmo atravessadas por noções contraditórias. Existem até algumas idéias feitas em franca oposição com a realidade do objeto a que aludem. É assim, por exemplo, para falarmos de algo bem próximo, como a Pesquisa FAPESP, ainda confundida por muitos com uma revista científica, que aceita para publicação artigos de pesquisadores de todas as áreas do conhecimento. É, sim, uma revista de divulgação científica que reúne reportagens produzidas por jornalistas, a partir de entrevistas a eles concedidas por pesquisadores que, em geral, chegaram a resultados relevantes em suas investigações – algumas vezes, a resultados excepcionais.  Neste suplemento especial da revista, por exemplo, que aborda particularmente o trabalho de difusão do conhecimento realizado pelos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids), criados no âmbito de um programa da FAPESP lançado em 2000, pesquisadores relatam resultados dessa difusão dentro de textos jornalísticos.

As expressões transferência de tecnologia, difusão do conhecimento e divulgação de resultados de pesquisa podem ser definidas precisamente, já que há  confusão a seu respeito. E, uma vez que este suplemento aborda a difusão, procuremos defini-la melhor. “Difusão é a capacidade de transformar o conhecimento teórico ou prático em ferramenta útil para a sociedade”, disse-nos para começo de conversa o coordenador do programa dos Cepids na FAPESP, Hernan Chaimovich, enquanto discutíamos que iniciativas dos centros iríamos incluir sob esse chapéu no suplemento especial. Essa é certamente uma definição com muitas conseqüências, ele mesmo aduziu, principalmente em decorrência da noção de ferramenta nesse contexto. “Podemos tomá-la como um instrumento de mudança, que pode ocorrer tanto quando se transfere conhecimento de um professor para um aluno, por exemplo, como quando se difunde um conhecimento a respeito do padrão de sono para motoristas de ônibus”, continuou. De qualquer sorte, o que é forte nessa discussão é a idéia de mudança, e mais, de uma mudança que pode ser medida, já que é possível mensurar de alguma forma um processo de difusão.

Como se verá nas reportagens deste suplemento que abordam cada centro em seu esforço de difusão do conhecimento, há uma relação íntima, essencial, entre difusão e educação. São múltiplos os canais para o processo educativo, das escolas aos meios eletrônicos de comunicação, passando pelas empresas e pelos hospitais. São muitos os objetos de que é possível se valer para transitar por esses canais e atingir o outro, milhares de outros, às vezes milhões, para partilhar com eles conhecimentos úteis e importantes para seu desenvolvimento individual e para o desenvolvimento social. Os Cepids têm difundido conhecimentos sobre como podemos nos proteger em certa medida das mortes precoces por câncer e sobre as estruturas fundamentais que existem dentro de cada uma de nossas células. Têm mostrado como um padrão de sono regular protege a saúde e têm ajudado casais a perceberem por que em determinados casos é altamente arriscado lançarem-se à aventura de uma gravidez, em outras circunstâncias bem-vinda. Têm aumentado o conhecimento a respeito de como lidar com os materiais  cerâmicos e têm mostrado que a física, presente com força em muitos campos, como a fotônica e a informática, pode se tornar inteligível e essencial para nosso viver cotidiano.

A viagem pelos caminhos de difusão dos 11 Cepids certamente dirá muito mais sobre o que é exatamente isso: difusão. Mas para finalizar vale aqui deixar a idéia de que o compromisso dessa palavrinha com a partilha efetiva do conhecimento e com a transformação social que ela pode induzir é mais direto e profundo do que aquele estabelecido pela noção de divulgação. É da informação que esta trata prioritariamente. É da transformação que aquela parece querer saber antes de mais nada.

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