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Exposição

Dinossauros sul-americanos, de nanicos a gigantes

Luiz Eduardo Anelli conta sobre a exposição itinerante com uma diversidade de réplicas de esqueletos da fauna pré-histórica na Argentina

O paleontólogo Luiz Eduardo Anelli, curador brasileiro e coordenador científico da exposição em São Paulo, foi o responsável por supervisionar a montagem da exposição e contribuir no treinamento dos monitores

Léo Ramos Chaves / Revista Pesquisa FAPESP

O paleontólogo Luiz Eduardo Anelli, professor da Universidade de São Paulo (USP), foi convidado – pela produtora de eventos Atual e o Museu Paleontológico Egidio Feruglio (MEF), da cidade argentina de Trelew, na Patagônia – para ser o curador da instalação brasileira da Expodinos, uma coleção argentina de réplicas de esqueletos de dinossauros. A exposição, itinerante, esteve em São Paulo até dezembro e seguiu para outros estados ao longo de 2023, a começar pelo Rio de Janeiro: desde o dia 21/1 pode ser visitada no BarraShopping. São mais de 60 caixas com reproduções de esqueletos, das quais 32 carregam partes de um único exemplar: o gigante Patagotitan, destaque da exposição, considerado o maior dinossauro já descoberto.

Anelli tem experiência na área. Em 2006 ele realizou a exposição Dinos na Oca, no mesmo parque. Ainda novato no mundo da divulgação naquele momento, precisou correr atrás de meios para transformá-la em realidade. Depois disso, foi responsável pelo projeto que instalou um esqueleto do icônico Tyrannosaurus rex em exposição permanente no Sabina Escola Parque do Conhecimento, em Santo André, na Grande São Paulo. É o único esqueleto da espécie no país.

De lá para cá ele escreveu uma diversidade de livros, principalmente sobre dinossauros. Já são duas dezenas, 15 deles para o público infantojuvenil. O mais recente, Novo guia completo dos dinossauros do Brasil (Peirópolis e Edusp), foi lançado em novembro no saguão de entrada da exposição. Anelli também é ativo no laboratório de réplicas do Instituto de Geociências da USP, recurso didático que permite levar cópias realistas de fósseis para aulas por todo o país, e atual diretor da Estação Ciência da USP.

A seguir, destaques de uma entrevista feita em meio a dinossauros.

Qual o seu dinossauro favorito nesta exposição?
O Patagotitan. Mas cada um conta uma história interessante, como o Buriolestes, que abre o show, o único representante brasileiro na exposição. É muito legal ver uma pessoa de 80 anos chegar aqui e ter uma sensação nova. Tudo é novidade para uma criança de 5 anos, mas, quando um senhor chega com os netos e se espanta, isso é muito importante. Dinossauros têm esse poder de espantar e inspirar um público de todas as idades.

Na trajetória desde a exposição na oca, em 2006, até aqui, passando pelos livros, como está sua missão de pôr os dinossauros brasileiros no repertório das crianças?
Cerca de 200 mil exemplares de livros de minha autoria sobre a vida dos dinossauros já estão nas casas e escolas do Brasil, um número que ainda crescerá. Dinossauros são populares e o que faço é apenas construir a ponte entre tudo o que eles podem nos mostrar e o interesse de crianças e adultos pelo tema. As pessoas me reconhecem e dizem: “Você é o professor Anelli? Meu filho aprendeu a ler com o seu livro”. O interesse maior por dinossauros coincide com a fase da alfabetização, e por isso as crianças podem iniciar o hábito da leitura com um livro de dinossauros brasileiros. Mas é difícil avaliar o alcance, é uma semente que ainda vou perceber no futuro. Quando houve o Congresso Brasileiro de Paleontologia em Ribeirão Preto, em 2017, fui como convidado. Lá estavam os maiores paleontólogos do Brasil e eu tinha apenas meus livros escritos para crianças e estudantes de graduação. Do primeiro ao último segundo do congresso, assinei centenas de livros para os paleontólogos e jovens estudantes presentes.

Qual foi a sua participação na Expodinos?
Esta exposição já esteve em diversos países. Como responsável científico no Brasil, meu papel foi receber e verificar o material na chegada. Minha curadoria envolve promover a intermediação com a mídia, ajudar no treinamento dos monitores e revisar as legendas que já vieram prontas. Um dos segredos de uma boa legenda é conectar cada dinossauro às pessoas. Também estou ajudando a pensar na proposta de inclusão de esqueletos brasileiros que deverão ser incorporados à exposição no futuro. Encontrar e manter esqueletos completos requer muito tempo e investimento. A ideia é que esta exposição sobre os dinossauros argentinos nos sirva de exemplo: os argentinos estão celebrando um patrimônio que é a pré-história deles, e precisamos aprender isso com eles.

Qual a importância de uma iniciativa como essa?
É uma exposição científica, lúdica. Os dinossauros põem livros no colo de crianças, as levam ao museu, as aproximam e aos seus pais da ciência. Oferecer uma exposição como esta é tratar o público com dignidade. Após a visita, as famílias deixam a exposição felizes pelo encontro com esses gigantes, trocando ideias e comentando as novidades. Além de todo o entretenimento e conhecimento científico, esses animais nos emocionam, nos fazem suspirar.

Que uso você planejou para o livro que acaba de publicar?
Escrevi pensando nos professores do ensino médio e fundamental, pois existe uma grande carência de material de leitura nessa área. O mundo em que vivemos foi construído em eras passadas. Tudo evoluiu ao longo de centenas de milhões de anos, e o conhecimento dessa história é fundamental: ela nos ajuda a entender o funcionamento do mundo. O livro também foi escrito para jovens curiosos, para estudantes de biologia e geologia. Quero despertar os jovens para a ciência. Para minha editora, Renata Borges, da Editora Peirópolis, o livro é um longo romance que tem a vida como protagonista. Está lá a história dos dinossauros brasileiros, de como acontece sua fossilização. Das 370 páginas, 150 contam a história da Terra e da vida desde o nascimento do Sistema Solar, bem como das grandes extinções, fenômenos naturais responsáveis por hoje estarmos aqui. O livro me ajudou a amadurecer como escritor, como paleontólogo e como divulgador da ciência.

Qual a diferença em relação a outros guias que você publicou?
Este é uma reedição de um livro lançado em 2009, na época indicado ao prêmio Jabuti. De lá para cá, outros três livros de minha autoria sobre a pré-história brasileira foram indicados ao prêmio, e um deles contemplado. Pense: um livro sobre dinossauros brasileiros recebeu o maior prêmio da literatura brasileira. O primeiro guia trazia os 23 dinossauros conhecidos no Brasil até então e uma pequena introdução sobre a história do mundo. Este recém-lançado tem os 54 dinossauros até hoje descritos no país e uma longa história do mundo, desde a explosão da nebulosa que deu origem ao Sistema Solar, passando pela formação da Terra, a origem da vida, a evolução da vida complexa até recentemente, no Antropoceno. Muitas novas descobertas foram realizadas nesse período e eu mesmo evoluí no meu entendimento sobre as geociências e a biologia. É impossível hoje compreender a evolução geológica e biológica da Terra se não unirmos a geologia e a biologia.

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