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Prêmio

Dupla norte-americana ganha o Nobel de Economia

Paul R. Milgron e Robert B. Wilson foram agraciados por suas contribuições à teoria dos leilões

Paul Milgrom e Robert Wilson aprimoraram a teoria dos leilões e inventaram novos formatos

Niklas Elmehed / Nobel Media

Dou-lhe uma, dou-lhe duas e dou-lhe três. O prêmio Nobel de Economia deste ano vai para a dupla de cientistas norte-americanos Robert B. Wilson, de 83 anos, e Paul R. Milgron, 72, ambos professores da Universidade Stanford, na Califórnia, Estados Unidos. No anúncio oficial, ocorrido na manhã desta segunda-feira (12/10) em Estocolmo, a Academia Real Sueca de Ciências reconheceu as contribuições que os estudos e modelos matemáticos criados pelos economistas deram à teoria dos leilões, que utiliza intensamente a teoria dos jogos para avaliar o comportamento dos participantes de leilões e os múltiplos formatos desse mecanismo de comercialização de bens e serviços.

Milgron e Wilson – que, além de colegas de trabalho em Stanford, são vizinhos de rua – dividirão o prêmio de 10 milhões de coroas suecas, o equivalente a cerca de R$ 6,3 milhões, instituído pelo Banco Central da Suécia (Sveriges Riksbank) em 1969, em memória a Alfred Nobel. “Não tenho ideia do que farei com o prêmio”, declarou um surpreso Wilson, durante a coletiva de imprensa que se seguiu à premiação, falando por telefone de sua casa na Califórnia, onde ainda era início da madrugada.

“Os laureados deste ano aprimoraram a teoria dos leilões e inventaram novos formatos de leilões, beneficiando vendedores, compradores e pagadores de impostos em todo o mundo”, justificou a academia, destacando que todos os dias leilões distribuem valores astronômicos entre compradores e vendedores.

Os estudos da dupla têm ajudado governos de todo o mundo a vender bens públicos a preços mais altos. Os economistas são conhecidos por terem formulado regras de leilão particularmente apropriadas para certos tipos complexos de licitações governamentais. Foram adotadas pela primeira vez nos Estados Unidos em 1994, em leilão de licenças de frequência de telecomunicações.

De acordo com o jornal Financial Times, “Milgrom e Wilson inventaram um novo formato de leilão conhecido como Rodada Múltipla Simultânea, que envolve a oferta de licenças para todas as áreas geográficas simultaneamente, começando com preços baixos e permitindo lances repetidos – um formato adotado por muitos outros países nas décadas seguintes”.

O modelo mais conhecido de leilões são as clássicas sessões de compra e venda de antiguidades e obras de arte, onde um leiloeiro oficial entoa a frase que abre esta reportagem e bate o martelo a cada negociação concluída. Mas essa modalidade de comercialização vai muito além e faz parte do dia a dia da economia dos países, afetando diretamente consumidores em todo o mundo.

Além das faixas de frequência de telecomunicações – como as destinadas ao padrão 5G de telefonia móvel prevista para chegar no próximo ano ao Brasil, por exemplo –, leilões são usados rotineiramente para a compra e venda de alimentos, energia elétrica, campos de petróleo, ativos financeiros, licenças de carbono e muito mais. Na internet, sites especializados, como o eBay, ofertam os mais diversos produtos on-line.

“Wilson e Milgron desenharam leilões para bens de difícil precificação e que buscam, além do preço máximo, uma melhora do bem-estar social”, comenta a economista Marislei Nishijima, professora associada do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP). “Creio que foi uma boa escolha. Com a atual tendência de aumento da desigualdade social observada no mundo todo, surge a necessidade de atuação eficiente dos governos nas economias, e os leilões proporcionam uma forma de prover bens e serviços públicos aos cidadãos de maneira mais eficaz à medida que buscam reproduzir o sistema de preços.”

Teoria do valor comum
Ao empregar a teoria dos leilões, os pesquisadores procuram compreender os resultados das diferentes regras de licitação e preços finais a fim de encontrar o valor mais adequado do bem ou do serviço a ser leiloado. “A análise é difícil, pois os licitantes se comportam de forma estratégica, com base nas informações disponíveis. Eles levam em conta o que sabem e o que acreditam que outros licitantes saibam”, ressaltou em comunicado a organização do prêmio.

Robert Wilson, orientador de doutorado de Milgron e atual professor emérito, desenvolveu, segundo a academia, a teoria dos leilões de objetos de valor comum – um valor que, teoricamente, é o mesmo para todos os interessados, mas, de início, é incerto para eles. Ele mostrou por que licitantes racionais tendem a dar lances abaixo de sua melhor estimativa do valor comum. Eles estão preocupados com a chamada “maldição do vencedor” – isto é, temem pagar em excesso e ter prejuízo.

Já Milgrom, professor de humanidades e ciências, formulou uma teoria mais ampla sobre os leilões, que considera não apenas os valores comuns dos bens leiloados, mas também seus valores privados, subjetivos, que variam de licitante para licitante – como, por exemplo, o valor que cada um atribui ao fato de possuir uma determinada obra de arte. Ele analisou as estratégias de lance em uma série de formatos conhecidos de leilão, demonstrando que um modelo dará ao vendedor uma receita esperada mais alta quando os licitantes aprenderem mais sobre os valores estimados uns dos outros durante os lances.

“O trabalho dos vencedores do Nobel de Economia tem muito a ver com suas despesas diárias [dos consumidores]”, publicou o economista Gesner Oliveira, da Fundação Getulio Vargas (FGV), em sua conta no Twitter. “Paul Milgrom e Robert Wilson desenvolveram modelos que ajudam a aumentar a eficiência e a concorrência de leilões de serviços fundamentais, como o de telecomunicações.”

A dupla de economistas, cotada entre os favoritos para o prêmio deste ano, foi laureada com o Nobel quase três décadas depois que o matemático norte-americano John Forbes Nash (1928-2015) recebeu a mesma homenagem da Academia Real Sueca de Ciências por seus estudos relacionados à teoria dos jogos, em 1994.

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