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Carta do Editor | 151

Entender para agir

O tema “mudanças climáticas” entrou na agenda dos principais países do mundo há pelo menos duas décadas. Mas quase sempre como um assunto protocolar que pode ser adiado, jogado para ser decidido no futuro. O século XXI trouxe consigo um sentido de urgência maior, herdado da reunião de Kyoto em 1997, quando foram estabelecidos prazos para a diminuição de emissão de gases poluidores que provocam o efeito estufa. O fato é que as soluções para as questões que envolvem o assunto vão além das tentativas de poluir menos o ambiente. É essencial estudar mais o clima do globo e suas interações, ainda pouco entendidas, e não esquecer do aspecto humano presente em todas as ações que vierem a ser planejadas. Melhor compreender antes o que está acontecendo para evitar agir às cegas.

Como é da natureza da FAPESP, a instituição não se omitiu sobre o tema. No final de agosto lançou o Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais com o objetivo de ampliar o conhecimento a esse respeito e propiciar a produção de mais estudos em assuntos nos quais o Brasil tenha interesse específico. O programa não se restringirá a uma ou duas áreas de pesquisa, como climatologia ou oceanografia. Pesquisadores das ciências físicas e naturais assim como os das ciências sociais trabalharão na articulação de estudos básicos e aplicados sobre as causas das mudanças no clima e seus impactos no mundo. Serão pelo menos dez anos de estudos financiados pela Fundação – parte deles custeada também pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Até agora, este é o maior esforço multidisciplinar já feito no país para colaborar no entendimento do que se passa com o clima. O editor de política científica e tecnológica, Fabrício Marques, explica como o programa paulista foi planejado (página 16). E duas reportagens do editor especial Carlos Fioravanti mostram como o problema já afeta várias partes do mundo e quais as soluções imaginadas até agora para reduzi-lo (páginas 24 e 28).

Das questões globais para as locais. A leishmaniose visceral, doença antes restrita às áreas rurais do Brasil, está chegando às grandes cidades. Para os pesquisadores que acompanham essa infecção provocada por um protozoário, é apenas questão de tempo para que ela se instale em centros como São Paulo e Rio de Janeiro. A destruição das matas, ambiente natural do parasita presente em cachorros-do-mato e raposas-do-campo, levou a doença para perto dos grandes agrupamentos urbanos. O editor de ciência, Ricardo Zorzetto, conta como pesquisadores de São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Teresina trabalham em testes, vacinas e coleiras para cães na tentativa de evitar uma epidemia anunciada e as prováveis mortes que poderão ocorrer, caso nada seja feito (página 46).

A bioengenharia, por sua vez, já ajuda a salvar vidas no Hospital das Clínicas (HC) e no Instituto do Coração (InCor), relata a editora assistente de tecnologia, Dinorah Ereno (página 68). Um tomógrafo novo, em pleno desenvolvimento por pesquisadores, médicos e engenheiros, permite controlar a injeção exata de ar nos pulmões de pacientes em unidades de terapia intensiva (UTI), sem causar lesões desnecessárias. O equipamento partiu de um protótipo inglês, mas avançou e é considerado o mais desenvolvido até agora. Uma empresa privada trabalha com os pesquisadores no desenvolvimento da máquina com boa perspectiva para o futuro – se o tomógrafo for vendido comercialmente, como se espera, uma parte do dinheiro será revertida para outras pesquisas no HC e InCor.

Por fim, Pesquisa FAPESP entra nas comemorações dos cem anos da imigração japonesa para contar qual a contribuição dos nikkeis (descendentes nascidos fora do Japão) à ciência e tecnologia no Brasil. O editor de humanidades, Carlos Haag, mergulhou na história e recuperou algumas das mais significativas colaborações da área de física, agricultura, medicina e engenharia (página 86). O legado dos imigrantes da Terra do Sol Nascente é muito maior do que a tão cantada culinária japonesa.

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