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Obituário

Entre pioneiros

Luiz Edmundo de Magalhães participou da consolidação da genética no país

acervo comissão memória IB-USPMagalhães (de camisa branca) em pesquisa de campo em Mongaguá, nos anos 1950acervo comissão memória IB-USP

Muitas vezes, no final da década de 1940, enquanto estudava história natural na Universidade de São Paulo (USP), Luiz Edmundo de Magalhães ouviu Theodosius Dobzhansky, biólogo russo naturalizado norte-americano que trabalhou no Brasil nessa época, chamar o biólogo Crodowaldo Pavan de “Pavanzinho”, em sinal de informalidade e amizade que não aplacavam o rigor com que trabalhavam. Dobzhansky, depois de se destacar mundialmente por ter ajudado a unificar os princípios da teoria da evolução com os da genética mendeliana, implantava os primeiros grupos de pesquisa em genética no país – e Pavan logo despontou como um dos jovens de talento.

Magalhães ouvia com atenção as longas conversas dos dois desbravadores da genética nacional e os acompanhava quando entravam em matas em busca de drosófilas, as minúsculas moscas adotadas como animais modelo para estudos de variabilidade genética. Ele próprio se fez doutor, em 1958 – o primeiro que Pavan orientou –, com um estudo sobre as variações no tamanho das populações de Drosophila do subgrupo willistoni, encontradas nas ilhas de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.

Filho de um comerciante e de uma costureira, nascido em Guaxupé, Minas Gerais, morreu no dia 23 de maio, aos 84 anos, depois de ter deixado suas próprias marcas. Como professor no Instituto de Biociências (IB) da USP, identificou espécies novas de drosófilas e orientou biólogos que hoje lecionam em universidades de São Paulo e outros estados. “Edmundo sempre ajudava, nunca atrapalhou ninguém, era muito honesto”, conta, aos 72 anos, André Perondini, professor do IB. “Conversávamos muito no laboratório. Ainda havia tempo para pensar, tomar um café, tomar um chope, não era essa correria de hoje.”

Magalhães não se limitou à vida de laboratório e, como disse seu filho Carlos em um depoimento à Folha de S. Paulo, sonhava com uma estrutura científica forte para o país. Ele foi reitor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) de 1975 a 1979, ajudando a ampliar de seis para 19 o total de cursos, e diretor do Instituto de Biociências, de 1985 a 1988; Perondini era o vice.

Sua ação se nota em várias universidades. No final do Currículo Lattes, Magalhães conta que foi assessor científico da FAPESP “desde a sua criação”. E, a pedido do então diretor científico Rui Carlos Camargo Vieira, esteve à frente de uma comissão que elaborou um plano de melhoria dos biotérios paulistas na década de 1980 e resultou na ampliação de biotérios da USP, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Magalhães foi conselheiro e secretário-geral da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) de 1969 a 1991. Poucos dias antes de morrer, ele estava no hospital quando entregou a Helena Nader, presidente da SBPC, os originais do livro Humanistas e cientistas do Brasil, que ele organizou. Ele era casado com Nícia Wendel de Magalhães, professora de biologia e ambientalista (conheceram-se quando estudavam juntos na USP). Tiveram seis filhos, que lhes deram 11 netos e uma bisneta.

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