Conhecidas nos Estados Unidos e no Brasil pelo nome de Thompson Seedless, as uvas-brancas da variedade Sultanina são resultado de uma mutação natural que as deixou sem sementes. Originárias provavelmente da região entre a Turquia e a Grécia, são consumidas preferencialmente in natura ou como passas e seu vinho não é visto como de qualidade. Pesquisadores brasileiros liderados pelo biólogo molecular Luís Fernando Revers, da Embrapa Uva e Vinho, de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, comprovou o mecanismo molecular que leva essas uvas a não terem sementes (Journal of Experimental Botany, 28 de março). Eles compararam o padrão de ativação do gene VviAGL11 durante o desenvolvimento de frutos de uma uva com sementes, a branca Chardonnay, usada para fazer vinho, e da Sultanina. Há anos, suspeita-se que esse gene estivesse envolvido na formação de sementes, mas a hipótese ainda não havia sido demonstrada. Revers e seus colaboradores constataram que, na Chardonnay, o VviAGL11 é expresso em momentos cruciais para a formação da casca que reveste as sementes. Na Sultanina, o gene simplesmente não é ativado nessa fase e isso resulta em sementes residuais – na prática, em uvas sem semente. A determinação do papel desse gene pode ser útil para manipular a formação de sementes nas variedades plantadas. “A expectativa é de transformar esse conhecimento em uma ferramenta para, antes mesmo de produzir o fruto, saber, por meio de testes de DNA, se a uva irá ou não ter sementes”, diz o biólogo molecular. Segundo o pesquisador, essa seria uma forma de acelerar o desenvolvimento de novos cultivares.
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