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Evento preparatório

Especialista pede criação de centro de vigilância nacional para o combate a novas epidemias

Proposta foi defendida por Ester Sabino, professora da Faculdade de Medicina da USP, durante a Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação

Léo Ramos Chaves / Revista Pesquisa FAPESPEster Sabino fala na conferência estadual: mais de 30 mil patógenos foram descobertos nas últimas décadasLéo Ramos Chaves / Revista Pesquisa FAPESP

A criação de um centro de vigilância nacional de epidemias que integre dados de todos os Estados brasileiros é uma necessidade urgente, dado o risco de surgirem novas epidemias e a recorrência de doenças como dengue, zika, febre amarela e COVID-19 no país. A avaliação foi feita por Ester Sabino, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), durante a Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Cecti).

O evento, realizado quinta (7/3) e sexta-feira (8/3) na Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, teve o objetivo de preparar as contribuições do Estado de São Paulo para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), marcada para ocorrer entre 4 e 6 de junho, em Brasília.

“O Brasil é um dos poucos países do G20 que não têm uma instituição desse tipo. Precisamos pensar em um sistema robusto e unificado de vigilância. O surgimento de novos agentes infecciosos está ocorrendo de modo mais frequente e as epidemias têm custos humanos e econômicos enormes. Todos sabemos o custo da Covid-19, houve uma retração de US$ 6,3 trilhões na economia mundial. O custo de todas essas ações para tentar prevenir é sempre muito menor”, afirmou Sabino, que coordena o Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (Cadde), financiado pela FAPESP e pela agência britânica de fomento à pesquisa em saúde Medical Research Council.

A pesquisadora explicou que as infecções emergentes – doenças infecciosas novas ou identificadas recentemente – são um grande risco global, cuja incidência tem aumentado. Nas últimas décadas, mais de 30 mil patógenos foram descobertos, sendo 60% das novas doenças transmitidas por animais (zoonoses).

Segundo a pesquisadora, essas questões de saúde pública estão conectadas com a saúde dos animais e do meio ambiente. Um exemplo dessa conexão é o novo avanço da dengue no país. A despeito dos repetitivos surtos e epidemias registrados nos últimos 40 anos, as recentes ondas de calor intensificaram a proliferação do mosquito causador da doença, aumentando o número de casos.

“Sabemos que existe essa conexão entre saúde e natureza, no entanto, cada área de pesquisa é tão separada que fica difícil criar uma política. Na questão de vigilância, eu priorizaria a questão da água. É na água que estão compostos químicos e microrganismos que podem afetar a nossa saúde e a dos animais”, explicou a pesquisadora.

Sabino se refere ao conceito de saúde global – One Health – que versa sobre a conexão entre saúde humana, do ambiente e dos animais. Um exemplo de como essa abordagem funciona é o monitoramento da água (rios urbanos e estações de tratamento), que permitiria detectar o surgimento de uma nova epidemia com até três semanas de antecedência da primeira alta de casos.

Para a pesquisadora, o combate a essas doenças deveria começar a ser organizado antes de elas se tornarem epidemias. “Mas ainda não sabemos quais ações são efetivas. Não existe, por exemplo, um método para avaliar o impacto das políticas públicas realizadas nos últimos anos. Fora isso, é muito difícil conseguir dados. No caso da dengue, estamos trabalhando no escuro”, disse.

“Há ainda a questão da perda de força dos institutos de pesquisa, que enfraquece a vigilância dessas doenças. É preciso organizar a nossa capacidade de vigilância em todas as áreas e integrar pesquisadores e institutos. O SUS [Sistema Único de Saúde] é o maior programa de transferência de renda no Brasil. Precisamos de pesquisa no SUS”, afirmou.

A pesquisadora acredita que a nova vacina contra a dengue, que passou a ser disponibilizada recentemente pela rede pública, deve ajudar. “Espero que consiga controlar a doença. Mas, em questão de arboviroses, sempre estão surgindo novas, como ocorreu com o vírus zika em 2015 e, agora, com o Oropouche, que está circulando na Amazônia e pode se tornar uma nova epidemia no Brasil”, avaliou.

A sessão “Meio ambiente e diversidade biológica”, realizada na manhã de quinta-feira, abordou os temas: Agronegócio e sustentabilidade, Produção de alimentos e segurança alimentar, Meio ambiente e Saúde Global, Recursos hídricos e Aquicultura sustentável. Além de Sabino, participaram: Carlos Joly (Universidade Estadual de Campinas), Suzan Pantaroto (Universidade Federal de São Paulo), Eloísa Garcia (Instituto de Tecnologia de Alimentos), Raffaella Rosseto (Instituto Agronômico), Jefferson Nascimento de Oliveira (Universidade Estadual Paulista) e Tavani Rocha Camargo (Startup Sample).

O vídeo com as sessões realizadas na manhã de quinta-feira pode ser acessado em: https://www.youtube.com/watch?v=RUdNToDzaxM.

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