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Boas práticas

Estratégia radical contra a má conduta

Luana GeigerO governo chinês anunciou uma reforma para melhorar a qualidade da ciência do país baseada no combate radical à má conduta científica.  No dia 30 de maio, o Partido Comunista e o Conselho de Estado da China divulgaram as linhas gerais das mudanças, que deverão ser detalhadas e implantadas em breve. Elas preveem, por exemplo, a criação de uma lista de revistas científicas de má qualidade – e a determinação de que artigos publicados nesses periódicos não contarão pontos em seleções para bolsas e empregos ou em processos de avaliação de agências de fomento chinesas. Outra novidade é que o Ministério da Ciência e Tecnologia assumirá a responsabilidade de apurar casos de má conduta, tarefa que era descentralizada e cabia às universidades e instituições científicas. Os pesquisadores envolvidos em escândalos terão seus nomes incluídos em um banco de dados e poderão ser privados de financiamento ou perder o emprego.

Segundo a agência oficial de notícias Xinhua, o objetivo do governo é criar um “mecanismo de integridade científica”, que ao mesmo tempo favoreça a inovação e combata com rigor casos de má conduta. Responsável por mais de 18% da produção científica mundial indexada na base Scopus, a China ultrapassou os Estados Unidos em número de artigos científicos publicados, mas também protagonizou escândalos envolvendo fraude, plágio e falsificação. Em um dos casos mais recentes, a revista Tumor Biology retratou no ano passado 107 artigos de autores chineses por manipulação da revisão por pares.

O Ministério da Ciência e Tecnologia e as agências de fomento do país vão criar padrões para definir desvios de conduta, normas para investigar acusações e punições para cada tipo de falha ética. Instituições que protegerem pesquisadores acusados poderão ser penalizadas com perda de recursos. Nicholas Steneck, especialista em integridade científica da Universidade de Michigan, em Ann Arbor, Estados Unidos, disse à revista Nature que é inédita a ideia de punir ao mesmo tempo instituições e periódicos e que a política sobre publicações pode se tornar modelo para outros países.

Também estão previstas mudanças na forma como os cientistas são avaliados. A ideia é considerar o impacto e o potencial inovador da produção de cada pesquisador, em vez de contabilizar a quantidade de artigos e valorizar aqueles divulgados em revistas de alto impacto, como se faz hoje. O químico Derek Lowe, diretor da multinacional farmacêutica Novartis, escreveu em seu blog na revista Science que a reforma chinesa, apesar de ter bons propósitos, deve enfrentar problemas de implementação. Um deles, ele observa, será a dificuldade de apontar todas as revistas de má qualidade, já que várias delas mesclam artigos bons e ruins. Ele também teme efeitos colaterais, como o uso de falsas alegações de má conduta para prejudicar pesquisadores rivais ou a perseguição a delatores honestos. “De todo modo, será algo interessante de ver”, afirmou.

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