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BOAS PRÁTICAS

Evidências de plágio põem em xeque produção de neurologista e editor australiano

Em fevereiro de 2022, a revista científica The British Journal of Sports Medicine (BJSM) anunciou a retratação de um editorial assinado em 2005 pelo então editor-chefe do periódico, o neurologista australiano Paul McCrory. Especialista nos efeitos de concussões – lesões cerebrais causadas por pancadas na cabeça – em esportistas, o pesquisador havia participado da elaboração de consensos médicos a respeito do tema. O editorial copiava trechos de um artigo do médico inglês Steve Haake sobre tecnologia e esportes olímpicos, publicado em 2000 na revista Physics World – as repetições representavam 50,7% do texto. Na época, McCrory admitiu o plágio e pediu desculpas a Haake.

O episódio colocou sob análise toda a produção científica do neurologista e descobriu-se que o plágio era prática recorrente em sua rotina. De acordo com registros da base de dados do site Retraction Watch, McCrory já teve, desde então, 10 editoriais do BJSM retratados por copiar trechos de outros trabalhos. Em outubro, o BMJ Publishing, responsável pela revista, anunciou que a análise do trabalho do ex-editor prossegue e que identificou 74 artigos problemáticos: 71 no BJSM, 2 no British Medical Journal (The BMJ) e 1 na revista Injury Prevention. Todos foram alvo de uma “expressão de preocupação”, recurso usado por periódicos para alertar leitores de que o paper está sob investigação e pode vir a ser retratado em breve.

A Australian Football League (AFL), que reúne equipes de um dos esportes mais populares do país, o futebol australiano, fez uma revisão das contribuições de McCrory à entidade e concluiu que, apesar do plágio nos editoriais, eles não invalidam as diretrizes sobre concussão adotadas pela AFL, que o neurologista ajudou a estabelecer. Ao site Guardian Australia, a entidade admitiu, contudo, que um estudo multimilionário coordenado por McCrory desde 2014 sobre efeitos de longo prazo da concussão em atletas não resultou até hoje em nenhuma produção científica por “falta de governança, gestão e coordenação”.

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