Imprimir PDF Republicar

Boas práticas

Firewall para a ciência

Ferramenta pode ajudar na triagem de revistas científicas e apontar as que têm práticas questionáveis

Uma equipe liderada por cientistas da computação da Universidade do Colorado em Boulder, nos Estados Unidos, desenvolveu uma plataforma de inteligência artificial que busca identificar de forma automática revistas científicas com práticas questionáveis, como a publicação de um número exagerado de artigos, prazos muito curtos para publicação, índices elevados de autocitações em referências bibliográficas e abordagem agressiva a autores. Os responsáveis por esses títulos, que também são conhecidos como “periódicos predatórios”, tentam convencer pesquisadores a desembolsar dinheiro para publicar seus estudos rapidamente, muitas vezes sem oferecer um processo genuíno de avaliação por pares. “Eles dizem: ‘Se você pagar US$ 500 ou US$ mil, revisaremos seu artigo’”, disse ao site ScienceDaily Daniel Acuña, pesquisador do Departamento de Ciência da Computação da universidade. “Na realidade, não prestam nenhum serviço. Apenas pegam o PDF e o publicam em seus sites.”

O grupo de Acuña treinou um sistema de inteligência artificial abastecendo-o com os parâmetros de excelência editorial adotados pelo Directory of Open Access Journals (Doaj), organização sem fins lucrativos que produz uma lista de periódicos de acesso aberto de boa reputação. Entre as boas práticas valorizadas pela curadoria do Doaj, incluem-se a oferta transparente de informações sobre objetivos e escopo da revista, sua política de revisão por pares e a composição do Conselho Editorial (incluindo afiliações institucionais de todos os membros).

Testes realizados com a plataforma de inteligência artificial, publicados em agosto em um artigo na Science Advances, mostram que, entre os quase 15.200 periódicos vasculhados, 1.400 não preenchiam ao menos parte dos critérios e foram sinalizados como potencialmente problemáticos. Especialistas humanos revisaram os achados e verificaram que a inteligência cometeu erros, já que cerca de 350 publicações vistas como questionáveis eram provavelmente legítimas. Acuña vê a ferramenta como um recurso promissor para proteger os pesquisadores no momento de escolher uma revista para publicar seus artigos, que ele compara a um “firewall para a ciência”, referência aos sistemas de segurança de redes que barram ataques de hackers. “O sistema pode auxiliar na pré-triagem de um grande número de periódicos, mas profissionais humanos é que devem fazer a análise final”, diz. A ferramenta está disponível on-line em uma versão beta e seu acesso, por enquanto, é limitado para editoras e base de dados que indexam revistas.

Republicar