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Fóssil nos Pampas

Fóssil revela carnívoro pré-histórico nos Pampas

Primeiro encontrado na América do Sul, predador é semelhante a espécies que existiam na África e na Rússia

Voltaire Neto Recriação artística de Pampaphoneus caçando um pareiassauroVoltaire Neto

 

Há cerca de 260 milhões de anos um predador do tamanho de um tigre vivia na região onde agora estão os pampas gaúchos. Até 2008 soterrado na fazenda Boqueirão, no município de São Gabriel, seu crânio foi encontrado e estudado pelo grupo brasileiro liderado pelos paleontólogos Juan Carlos Cisneros, da Universidade Federal do Piauí e Cesar Schultz, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em colaboração com colegas da África do Sul e da Turquia, os brasileiros verificaram que se trata de uma espécie desconhecida para a ciência, embora aparentada com outras que na mesma época habitavam as regiões onde agora é a Rússia e a África do Sul. O estudo foi publicado hoje na PNAS. “Os animais podiam caminhar desde a Rússia até a África do Sul, passando pela América do Sul”, conta Cisneros. Fósseis do mesmo período já foram encontrados no Piauí e no Maranhão, reforçando essa ligação.

O predador da família dos dinocefálios, que são precursores dos mamíferos (não eram dinossauros, o pesquisador faz questão de ressaltar), foi batizado de Pampaphoneus biccai. O primeiro nome significa “matador dos Pampas” e o segundo é uma homenagem a José Bicca, dono da fazenda onde o fóssil foi encontrado.

As análises do crânio revelaram que P. biccai era um predador eficaz. Os grandes caninos curvados para trás prendiam a vítima de forma implacável, enquanto dentes menores serrilhados logo atrás cortavam a refeição à medida que a boca se fechava como uma tesoura. Para completar, pequenos dentes no palato ajudavam a macerar o alimento. “Provavelmente funcionava como a língua de um gato”, compara Cisneros.

A partir dos estudos detalhados que tem feito na região, o grupo já tem uma boa ideia da fauna desse período, o Permiano Médio. Segundo o pesquisador, o carnívoro recém-descoberto caçava animais como os pareiassauros, cuja pele tinha partes ósseas a exemplo da armadura dos jacarés, e os herbívoros de dentes de sabre Tiarajudens eccentricus, descobertos pelo mesmo grupo nessa região.

“É o primeiro carnívoro desse período encontrado na América do Sul”, afirma Cisneros, que pretende continuar as buscas, aprofundar as análises do crânio (tomografias são uma possibilidade) e ampliar as comparações com fósseis da África e da Europa. Ele mesmo originário de El Salvador, na América Central, participa de estudos tanto no Piauí, onde é professor, como no Rio Grande do Sul. “Fiz o mesmo trajeto dos animais do Permiano”, brinca.

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