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Boas práticas

Frases torturadas

Periódico de ciência da computação anuncia a retratação de 416 artigos com evidências de fraude

A editora Sage, dos Estados Unidos, anunciou a retratação de 416 artigos de seu periódico de ciência da computação Journal of Intelligent and Fuzzy Systems (Jifs). De acordo com o site Retraction Watch, foram encontradas nos artigos evidências de má conduta como “textos incoerentes e frases torturadas”, associados a artigos produzidos pelas fábricas de papers, serviços fraudulentos que comercializam a autoria de artigos sob demanda, em geral com dados falsos, além de “autores e revisores não verificáveis”, um sinal de manipulação na avaliação dos estudos. As notas de retratação afirmam que as anomalias “levantam preocupações sobre a autenticidade da pesquisa e do processo de revisão por pares subjacentes aos artigos”.

Elas também informam que os papers cancelados haviam sido sinalizados por uma ferramenta on-line, o Detector de Pés de Barro, que aponta a existência de artigos retratados em suas referências bibliográficas. O excesso de referências inválidas mostra que o autor selecionou sua bibliografia de modo desleixado e pode estar associado a condutas ainda mais graves. A ferramenta foi criada pelo cientista da computação Guillaume Cabanac, da Universidade de Toulouse, na França. Os trabalhos invalidados eram assinados na maioria por autores da China e da Índia.

É a segunda vez que a Sage retrata papers do Journal of Intelligent and Fuzzy Systems de modo massivo desde que comprou a revista da editora holandesa IOS Press, em 2023. Em agosto do ano passado, outros 467 artigos do título já haviam sido cancelados porque o processo de revisão por pares foi considerado inadequado. Em 2021, quando ainda pertencia ao antigo dono, o periódico anunciou a retratação de 50 artigos devido a manipulação de referências bibliográficas. Os papers citavam trabalhos que não tinham relação com o tema de pesquisa abordado, um artifício para ampliar indicadores de citações – a descoberta do truque fez com que a revista fosse punida pela empresa Clarivate Analytics com a suspensão da divulgação de seu fator de impacto em 2020.

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