Formada há milhões de anos, a Caatinga foi ocupada inicialmente por uma floresta semelhante à Amazônia e à Mata Atlântica, com predomínio de espécies mais resistentes a longos períodos de seca. As que vemos hoje devem ter se estabelecido há pelo menos 5 mil anos. Pesquisadores de Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco e São Paulo reconstituíram a história mais recente do sertão nordestino examinando grãos de pólen de uma profundidade de até 1,7 metro do fundo de uma lagoa temporária em São João do Cariri, na Paraíba. Espécies nativas, adaptadas ao clima semiárido, como as árvores dos gêneros Licania e Apterokarpos, estavam em camadas de sedimentos com idade entre 4,9 mil e 2,2 mil anos. “Quando terminou a última glaciação, há cerca de 12 mil anos, o clima ficou menos úmido na região Nordeste do Brasil, mas foi depois, a partir dos 5 mil anos, que a Caatinga começou a tomar a forma que conhecemos”, diz o geógrafo José João Lelis Leal de Souza, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), um dos autores do estudo. Micropartículas de madeira carbonizadas indicaram incêndios locais e ocupação humana na região. Por volta de 2,1 mil anos, a concentração de esporos de ervas aquáticas e algas sugere oscilações entre um clima semiárido mais úmido e mais seco, associadas aos fenômenos El Niño e La Niña. Por volta de 1,6 mil anos, o clima assentou, com longos períodos de seca e chuvas fortes ocasionais (Frontiers in Ecology and Evolution, fevereiro de 2022; Mercator, julho de 2023).
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