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Zoologia

Guia traz informações básicas sobre as serpentes do Pampa

Volume com fotos e informações sobre 59 espécies, além de explicações gerais sobre o bioma e esse tipo de réptil, é lançado no Instituto Butantan

De hábito subterrâneo, Apostolepis quirogai é considerada em risco de extinção devido à sua raridade

Marcelo Ribeiro Duarte / Instituto Butantan

O Pampa traz à mente áreas descampadas, frequentemente usadas como pasto para gado bovino. Mas ali vive uma fauna especial, inclusive de serpentes. Agora elas estão listadas no livro Serpentes do Pampa: Guia ilustrado (Editora Ponto A), pelos herpetólogos Otavio Marques, do Instituto Butantan, André Eterovic, da Universidade Federal do ABC (UFABC), Márcio Borges-Martins, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e Ivan Sazima, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A publicação contou com auxílio da FAPESP.

São 59 espécies, a maior parte mais adaptada à vida no chão do que nas árvores, pouco comuns no bioma. Assim como os guias semelhantes para os outros biomas brasileiros feitos por Marques, Eterovic e Sazima com coautores variados, cada página traz, além da foto da serpente, ícones que indicam características como alimentação, tipo de dentição, hábito e risco que o animal oferece em encontros com seres humanos.

Eterovic afirma a importância da região em termos de biodiversidade. “O Pampa cobre apenas 2% do território brasileiro; em termos relativos é uma concentração significativa de espécies ­– 14% do total de serpentes brasileiras – em um ambiente estruturalmente mais simples.” É um bioma restrito ao sul do país, e não exclusivamente nacional: ocupa 70% do Rio Grande do Sul e o Uruguai inteiro, e os animais não levam em conta a fronteira entre os países vizinhos. “Ressalto o caráter binacional desse guia sobre a savana uruguaio-brasileira e a necessidade de integração acadêmica entre esses dois povos”, diz o pesquisador. Ele alerta para a necessidade de conscientização, já que as alterações ambientais por ali não chamam atenção como acontece com a derrubada de florestas. No entanto, a substituição de espécies nativas de plantas forrageiras por outras, invasoras, mais eficientes na engorda do gado, traz danos enormes ao funcionamento do ecossistema. “A expansão agropecuária, tão cara aos dois lados do Chuí, deve ser planejada de forma a reduzir o impacto sobre a biota e a possibilitar sua recomposição”, propõe o herpetólogo.

ReproduçãoCada prancha do guia traz ícones informativos sobre a espécieReprodução

“Eu destacaria a pouca atenção de conservação que formações não florestais receberam ao longo do tempo”, ressalta Borges-Martins. “Temos uma legislação ineficiente e também baixa cobertura de unidades de conservação, ao passo que vemos um acelerado processo de conversão das áreas naturais em pastagens manejadas e monoculturas diversas.”

Além de pôr a biodiversidade ao alcance do público, o aspecto de saúde pública torna a publicação mais valiosa. No Pampa o risco de encontros entre serpentes e fazendeiros é grande, especialmente “em rincões onde a lavoura ainda é manuseada e o barro é pisado sem calçados”, como diz Eterovic. Conhecer a fauna rastejante e seu potencial peçonhento pode ser salvador.

No dia 8 de agosto, a partir das 18h, um evento com palestra de Borges-Martins e exposição, entre outras atividades, acontecerá no Instituto Butantan para marcar o lançamento do livro.

Uma versão deste texto foi publicada na edição impressa representada no pdf.

Projeto
Serpentes do Pampa: Guia Ilustrado (nº 24/23282-6); Modalidade Publicações científicas; Pesquisador responsável Otavio Augusto Vuolo Marques (Butantan); Investimento R$ 30.150.

Livro
MARQUES, O. et al. Serpentes do Pampa – Guia ilustrado. Ponto A. 2025.

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