Pesquisadores da Faculdade de Medicina Meharry, em Nashville, Estados Unidos, vão liderar um esforço internacional para criar um banco de genomas exclusivamente de pessoas com ascendência africana. A ideia é coletar amostras de 500 mil voluntários em vários países. A iniciativa, denominada “Juntos para mudar os cuidados de saúde para pessoas com ancestrais africanos” busca corrigir uma distorção: os africanos e afrodescendentes estão sub-representados nas bases de dados que municiam pesquisas genéticas.
No UK Biobank, um estudo de predisposição genética a doenças que monitora 500 mil pessoas no Reino Unido desde 2006, apenas 1,6% dos participantes se identificou como negro. Entre os participantes do Estudo de Associação do Genoma Completo (GWAS), projeto do Instituto Nacional de Pesquisa no Genoma Humano dos Estados Unidos que busca identificar variantes genéticas associadas a doenças e compila dados de 4.346 estudos publicados, apenas 0,48% se apresentou como afro-americano ou afro-caribenho e só 0,18% como africano (hispânicos e latino-americanos também são poucos: 0,33% do total, enquanto 94,77% têm ascendência europeia).
A sub-representação é perigosa, porque mutações genéticas que causam doenças apenas entre os africanos não são captadas em pesquisas. O projeto é financiado pelas empresas farmacêuticas AstraZeneca, Novo Nordisk, Regeneron e Roche – cada uma delas vai investir US$ 20 milhões. A escolha da Faculdade Meharry não foi casual. Ela foi fundada no século XIX para formar profissionais de saúde negros no sul dos Estados Unidos. “Essa é uma parceria histórica. Nada parecido com isso aconteceu antes”, disse à revista Science James Hildreth, reitor da Faculdade Meharry, referindo-se ao apoio conjunto de várias empresas farmacêuticas a um projeto de grande ambição liderado por instituição acadêmica historicamente associada a afrodescendentes.
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