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Boas práticas

Hidróloga de origem chinesa ganha ação contra governo dos Estados Unidos

Acusada de espionagem sem provas, Sherry Chen perdeu emprego e agora vai receber US$ 1,8 milhão de indenização

A hidróloga nascida na China e naturalizada americana Sherry Chen vai receber US$ 1,8 milhão do governo dos Estados Unidos, em um acordo relacionado a duas ações que ela movia na Justiça por ter sido presa e demitida de seu emprego no Serviço Meteorológico Nacional, sob a acusação de espionagem. Em outubro de 2014, ela foi detida em seu ambiente de trabalho, na cidade de Wilmington, em Ohio, por ter feito download de informações de um banco de dados norte-americano e repassado a uma autoridade da China. Um mês depois, foi afastada do trabalho, sem direito a remuneração.

A acusação remontava a uma viagem que Chen fez a Beijing, em 2012, para visitar os pais. Lá, teve contato com um colega de graduação, Jiao Yong, que se tornara vice-ministro de Recursos Hídricos do país. Ele disse que estava tentando obter recursos para reformar antigos reservatórios hídricos no país e perguntou à ex-colega como isso funcionava nos Estados Unidos. Quando retornou das férias, a hidróloga fez uma busca no banco de dados do Inventário Nacional de Barragens, utilizando a senha emprestada de um colega, e enviou algumas informações a Jiao, juntamente com referências a sites públicos. Sua movimentação foi interpretada como uma tentativa de repassar dados sensíveis ao governo chinês, mas ela explicou que só fornecera informações de acesso público.

Como as evidências contra ela eram fracas, o Departamento de Comércio logo desistiu de denunciá-la criminalmente, mas ainda assim a pesquisadora foi demitida em 2016 com base na suspeita de espionagem. Em 2019, Chen processou o Departamento de Justiça e, em 2021, o Departamento de Comércio, alegando ter sido presa de forma injusta e ilegal. O acordo e a indenização encerram as duas ações judiciais.

A vitória foi comemorada por pesquisadores chineses que trabalham em empresas e universidades norte-americanas e relatam casos de perseguição e preconceito. Em 2017, a Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos declarou a China como um rival competitivo e acadêmicos chineses tornaram-se alvo de monitoramento. O objetivo era evitar que laboratórios e instituições de pesquisa compartilhassem dados capazes de fortalecer o caráter de potência tecnológica do país adversário ou mantivessem laços não declarados com organizações chinesas. Vinte e três indivíduos já foram acusados de violações de integridade com base nessa estratégia, uma ação batizada de Iniciativa China, hoje suspensa por decisão do presidente Joe Biden.

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