O vírus causador do surto de varíola bovina que entre 2001 e 2003 atingiu mais de 1.500 cabeças de gado e cerca de cem trabalhadores rurais no Vale do Paraíba, interior paulista, pertence à variedade vaccinia, uma forma menos agressiva utilizada nas vacinas contra a varíola, e não à cowpox, como havia inicialmente se pensado.
Uma equipe do Instituto Adolfo Lutz coordenada por Jonas Kisielius e Marli Ueda Ito chegou a essa conclusão por meio do seqüenciamento de um gene associado à produção de uma proteína que permite ao vírus infectar as células humanas. Como a cepa vaccinia está fora de circulação no país desde o início da década de 1980, quando cessou a vacinação contra a varíola humana, era grande a probabilidade de o vírus do Vale do Paraíba pertencer à variedade cowpox , causadora da varíola bovina verdadeira, que reduz a produção de leite por infectar o úbere das vacas e jamais foi detectada nas Américas.
A cepa vaccinia causa apenas pequenas feridas nas mãos, além de febre e indisposição moderadas. Há até um benefício: quem foi recentemente contaminado pelo vaccinia está protegido contra a varíola, provocada por uma variedade muito mais agressiva do vírus, asmallpox. Mas o fato de o vaccinia ainda circular muito após o fim da vacinação contra a varíola, há cerca de 20 anos, levanta uma dúvida: como essa cepa permaneceu tanto tempo na natureza? “Provavelmente”, diz Marli, “o vírus vaccinia conservou-se em roedores”.
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