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Política C&T

Íntegra do discurso do Governador Mário Covas

Ao observador menos avisado, a literatura confunde. Imaginem que um contrato se assina para “desenvolvimento e avaliação de pseudoquelantes no branqueamento da pasta de celulose por H2O2 e na inibição de corrosão nos equipamentos”. Outro de um “eletrocardiógrafo associado a microcomputador de custo final entre 500 e 1.000 reais”: se eu não entendo o início, sou capaz de entender o final. E embora não seja propriamente do ramo, há aqui alguma coisa que me parece que vai interessar a alguns, o “controle da produção de área do abatedouro de frangos”.

De qualquer modo, é muito gratificante ao Governo do Estado poder estar assistindo a esse ato. Um ato pelo qual a FAPESP – que a sabedoria dos legisladores de São Paulo faz credora de 1% do ICMS pertencente ao Estado, com o objetivo de implementar, criar condições para o desenvolvimento da pesquisa do Estado de São Paulo – assina hoje, como decorrência de uma decisão tomada para financiamento de inovações tecnológicas nas pequenas e médias empresas, seus trinta primeiros contratos. A esses contratos vão se juntar outros vinte e cinco e outros cinqüenta estão no forno, com o objetivo de serem analisados por igual.

É impressionante, e eu dizia há pouco isso, como a inovação tecnológica caminha com velocidade. Neste final do século, estamos mostrando que o desenvolvimento tecnológico consegue ser mais rápido do que o mais rápido dos veículos, que é o pensamento. Até agora se dizia que pensar é a maneira mais rápida de se caminhar, porque é possível traspôr distâncias enormes em segundos. Mais as telecomunicações acabaram de fazer a mesma coisa. E a velocidade com que a inovação tecnológica se abate sobre o mundo, faz com que até mesmo a mais aguda inteligência seja dificultada na tarefa de acompanhar esse avanço.

Isso vai produzir modificações no mundo, que ainda sequer foram sonhadas. Algumas delas, como a chamada globalização, e que aparentemente vieram para ficar, ainda não demonstraram à sociedade as suas consequências totais. Proclamam-se as suas virtudes, mas elas trazem também dificuldades. Hoje, o cidadão em Hong Kong espirra e o mundo inteiro é obrigado a gritar “saúde!”, porque o mundo inteiro é influenciado por esse espirro.

O fato de estarmos convencidos da existência da globalização, não nos desobriga da tarefa de nos prepararmos para conviver com ela e de construirmos as salvaguardas necessárias para que, em consonância com a sua existência, possamos avançar da forma mais rápida possível.

São Paulo, volto a insistir, pela existência de um corpo de homens de Ciência e Tecnologia da universidade e pela competência do Poder Legislativo, foi capaz de montar um esquema, criando uma fundação de amparo à pesquisa, cujo papel é de tal relevância que, na atual quadra, se iguala aos mais significativos papéis que o Estado tem a desempenhar.

Esta exigência de desenvolvimento tecnológico vai ser dramaticamente maior a cada instante que passa. E portanto indispensável incorporar às grandes empresas e às pequenas. Há algum tempo atrás, participando da Feira de Informática, eu pude ver que as grandes inovações apresentadas alí nasceram de pesquisadores praticamente autônomos. De jovens universitários que desenvolveram, através do seu conhecimento pessoal, inovações tão significativas, que nos colocam hoje numa posição de igualdade nesse setor.

Hoje, trinta áreas diferentes são estimuladas. O estímulo já seria interessante por si próprio. Necessário e indispensável pela sua própria existência. A FAPESP amplia a sua área de influência. Associa a pesquisa pura à pesquisa aplicada. Fornece possibilidades para que o desenvolvimento tecnológico se faça e se faça na pequena e média empresa.

Quem nesse país se dá ao luxo de examinar estatísticas, mesmo com a pobreza e com a insegurança com que elas são apresentadas, sabe que a pequena e a micro empresa já é responsável por um enorme contingente de investimento em capital, sobretudo por um enorme suprimento de empregos. E, portanto, em boa hora a FAPESP decidiu ampliar a sua atividade, criando pela primeira vez a possibilidade de financiamento para a inovação tecnológica na pequena e na micro empresa. Este ato de hoje, consagra este fato.

Que não ficou no papel e que muito rapidamente – não são decorridos muitos meses de quando o ato era assinado em reunião na FAPESP – e trinta processos são aprovados, investindo nisso um milhão e trezentos mil reais, e cinquenta outros já são objeto de análise. Quanto mais nesta área se puder investir, melhor para o Estado, mas melhor para o país. Menos mal para apequena e a micro empresa, que encontram uma possibilidade de exercitar a sua potencialidade científica e que podem, com isso, contribuir seguramente com o crescimento que todos queremos que seja feito.

A sociedade do futuro, ninguém mais discute isso, vai ser sociedade do saber e do conhecimento. O que no passado representou o colonialismo, o que representou posteriormente o imperialismo, as várias formas de dominação e criação de hegemonia mundiais, vão ser substituídas muito rapidamente por uma sociedade nova, que vai ser a sociedade do saber e do conhecer. Ela não vai exigir grandes investimentos no local. O mundo ficou tão próximo que já não tem tanta importância aonde o investimento se dá. Mas tem uma enorme importância onde a tecnologia se cria, onde ela se desenvolve, onde ela é acumulada, onde é que ela vai ser objeto de exercício.

Por isso, eu quero parabenizar a todos os senhores. Essa não é uma tarefa do Governo. A FAPESP é uma fundação que tem autonomia, que tem dimensão própria, que recebe recursos próprios, as pequenas e micro empresas nasceram por força de sua gente, e o papel que o Governo desempenha nisso é de ser um sócio. Alguém que tem consciência do papel e do significado da tarefa que se está desempenhando.

Por isso, eu quero parabenizar a todos. Espero que rapidamente os resultados decorrentes deste acordo possam ser verificados e com a convicção e a certeza de que o Estado, mais do que o Estado, a Nação, mais do que a Nação, o povo brasileiro vão ser profundamente beneficiários desse fato.

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