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Carta da editora | 291

Jornalismo em tempos de pandemia

Em 20 de março, a redação de Pesquisa FAPESP fechou, e a equipe passou a trabalhar remotamente. A edição de abril, já encaminhada, foi concluída enquanto corríamos para estabelecer novos processos de trabalho envolvendo videoconferências, plataformas de compartilhamento de conteúdo e armazenamento em nuvem. A edição atual foi planejada e executada a distância, e só o fotógrafo da revista, Léo Ramos Chaves, foi às ruas – de máscara – para produzir imagens da vida na cidade, como as que ilustram a contracapa.

A pandemia causada pelo novo coronavírus impactou inúmeras atividades profissionais. Algumas foram paralisadas e outras proveem, incansavelmente, serviços indispensáveis. As comunidades de pesquisa e inovação vêm trabalhando intensamente para entender o funcionamento e a estrutura do vírus Sars-CoV-2, causador da Covid-19, seus efeitos no organismo humano, e desenvolvendo possíveis medicamentos e vacinas. Enquanto não há tratamento específico, os respiradores desempenham papel importante nos casos mais graves. Esses são alguns dos temas tratados no especial Covid-19, apresentado na página 18.

É difícil avaliar todas as dimensões da pandemia. Um pesquisador citado nesta edição definiu a doença como tendo uma “ferocidade humilhante”. No editorial anterior, o mundo beirava 1 milhão de infectados e mais de 40 mil vidas perdidas. Um mês depois, os números são estarrecedores: adoeceram 3,5 milhões de pessoas e 250 mil morreram desde a virada do ano. Com essa velocidade, a cobertura jornalística demanda atualizações diárias, que podem ser acompanhadas pelos leitores de Pesquisa FAPESP no site ou pelo boletim eletrônico.

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Embora o novo coronavírus domine o interesse e as preocupações dos leitores, há espaço para outros temas. A edição mais recente da Pintec, pesquisa de inovação do IBGE, trouxe dados que indicam uma queda no percentual de empresas que desenvolvem atividades nessa área (página 58). Ainda tratando de problemas de desenvolvimento, a pesquisa em economia vem demonstrando que desigualdade e pobreza são fenômenos distintos, e que a desigualdade crescente é um problema por si só. Prejudica não apenas a mobilidade social, como o crescimento da economia. A tributação progressiva é um instrumento que vem sendo usado em vários países para atenuar essas desigualdades (página 82).

No final de abril, assumiu a Diretoria Científica da FAPESP o neurocientista Luiz Eugênio Mello, da Unifesp. Ele substitui o físico Carlos Henrique de Brito Cruz, no cargo desde 2005. Em entrevista, Mello falou de seus planos para a Fundação, de sua visão sobre ciência e tecnologia e sobre os desafios impostos pela pandemia (página 50). O novo diretor propõe que a FAPESP amplie a sua atividade colaborativa com outras unidades da federação e com parceiros internacionais, buscando países em diferentes estágios de desenvolvimento. Apesar das questões urgentes que a pandemia coloca, Mello observa que ela fez com que a atividade científica subisse na consideração da sociedade, pois é da ciência que estão vindo as respostas: “Quanto mais pessoas forem educadas para terem acesso ao pensamento científico e à capacidade de olhar para o mundo e entendê-lo mais próximo de sua realidade, melhor vai ser”.

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