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Literatura

Machado de Assis

No artigo “Leituras em competição”, o crítico literário e professor aposentado da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Roberto Schwarz faz uma revisão do estudo sobre a obra de Machado de Assis. No território nacional a recepção do escritor foi se modificando com o passar do tempo: de corpo estranho na literatura brasileira, passou a ser visto como crítico sagaz, capaz de retratar com precisão um país inconfundível, seja pela cultura herdada do trabalho escravo, o clientelismo, seja pelas caricaturas do imperador e os “anseios europeizantes” da elite brasileira. Após considerar a importância da leitura estrangeira, capaz de encontrar na obra machadiana influência de Shakespeare, e de derrubar as crenças no narrador memorialista do clássico Dom Casmurro, Schwarz problematiza a interpretação “universalista” que ignora as críticas de Machado ao contexto político do Brasil, “terreno de tensões sociais” que permitiu a construção do seu texto. Para se aprofundar na discussão sobre a dicotomia entre local e universal na obra do escritor, o crítico literário analisa um conto, “O punhal de Martinha”, no qual, através de uma voz impostada e caricatural, o narrador tenta comparar a notícia de um homicídio numa pequena cidade no interior da Bahia com um capítulo da História romana, de Tito Lívio. A ênfase de Machado de Assis, escritor “avesso à unilateralidade”, é mostrar o despropósito e a aleatoriedade desse tipo de comparação. “Para ele o dilema não comportava solução imediata, mas tinha possibilidades cômicas e representatividade nacional, além de funcionar como caricatura do presente do mundo, em que as experiências locais deixam mal a cultura autorizada e vice-versa, num amesquinhamento recíproco de grande envergadura, que é um verdadeiro ‘universal moderno'”, conclui Schwarz.

Novos Estudos – Cebrap – nº 75 – São Paulo – jul. 2006

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