A falta de tempo para os trabalhos domésticos foi o que motivou a arquiteta Célia Jaber de Oliveira a construir, com ajuda de seu irmão Lupércio Jaber de Oliveira, técnico em mecânica, uma máquina que passa roupas. A invenção caseira, feita para uso particular, foi tão bem-sucedida que ela procurou o apoio do Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec) e da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) para transformar a “engenhoca” na Agillisa, um eletrodoméstico que alisa até 12 peças de roupa em cerca de uma hora. Em 2001 o projeto passou a fazer parte do Cietec e se transformou na empresa Coll Projetos. Cinco anos depois a empresa foi instalada em Guarulhos, na Grande São Paulo, e agora se prepara para iniciar a comercialização do produto.
Antes de iniciar os estudos para a elaboração do eletrodoméstico, a arquiteta encomendou, em 1997, uma pesquisa para saber se havia demanda para o produto. A partir de entrevistas e da aplicação de questionários a 200 pessoas, comprovou-se que 97% dos entrevistados não gostavam de passar roupa e que a máquina tinha uma aceitação de 84%. Em 1999 Célia conseguiu a carta patente da invenção.
Para alisar a roupa, o eletrodoméstico libera vapor que solta as fibras e torna as peças levemente úmidas e macias. Com um posterior ciclo de ar quente essa umidade é eliminada. “Funcionava muito bem. Todos os que viam a máquina em casa queriam uma também. Foi a partir daí que começamos a pensar em transformar o aparelho em produto para o mercado”, explica Célia. “Mas a máquina ainda trabalhava de maneira muito empírica, embora os resultados fossem satisfatórios”. Como a invenção é pioneira, não existia muita literatura sobre o assunto.
“A principal contribuição acadêmica foi a de estabelecer uma base científica para o entendimento de todo o processo, melhorando a confiabilidade e a eficiência do produto”, explicou o engenheiro mecânico Nicola Getschko, professor da Poli-USP e coordenador do projeto financiado pela FAPESP no âmbito do Programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe). “O protótipo alisava as roupas, mas não tinha um design bonito e precisava de um controle automático. Era preciso olhar quando o trabalho estava pronto”, acrescenta Célia.
Com o aperfeiçoamento, a máquina adquiriu um sistema automático. Enquanto o eletrodoméstico alisa as roupas, sobra tempo para outras atividades sem se preocupar com a possibilidade de o tecido ficar queimado ou manchado. Para as partes mais complicadas, como colarinhos e barras de calça, a máquina vem com dispositivos para serem aplicados nessas regiões e facilitar o alisamento. A economia de energia elétrica é cerca de 50% em comparação com o ferro para alisar a mesma quantidade de roupas. Célia explica que a equipe também levou muito tempo tentando tornar o produto mais barato através da substituição de materiais. Mesmo assim, o preço de lançamento da Agillisa é de R$ 3.500,00.
Após os melhoramentos técnicos, em março de 2006, a empresa fez uma nova pesquisa de mercado, de caráter qualitativo, e comprovou que 89% da amostra de 100 potenciais consumidores que presenciaram o funcionamento da máquina (80 mulheres e 20 homens) gostaria de comprar o eletrodoméstico. “O natural é que, com o tempo, o produto se torne mais barato e atinja uma faixa maior do mercado”, prevê Célia.
O Projeto
Alisadora automática de roupas (nº 04/10378-1); Modalidade Programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe); Coordenador Nicola Getschko – USP/Coll; Investimento R$ 211.144,00 (FAPESP)