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 Hugo Aguirre Armelin

Mais uma vez deu FAPESP na cabeça

É hora de avaliar o impacto dos megaprojetos nas universidades

A seqüência completa e anotada do DNA da bactéria Xylella fastidiosa está sendo publicamente anunciada. Missão cumprida pelo esforço coordenado de 35 laboratórios de pesquisa e cerca de 200 pesquisadores de diversas instituições. É o primeiro patógeno de plantas e o primeiro genoma seqüenciado no hemisfério sul. Trata-se, portanto, de um feito internacional em pesquisa científica que dá credibilidade definitiva ao projeto Genoma da FAPESP.

A divulgação dessa conquista elevará em muito o conceito e a confiança que a coletividade do Estado tem na capacidade competitiva de suas instituições de pesquisa. Por outro lado, o sucesso dessa iniciativa deve motivar muita reflexão entre dirigentes universitários e líderes de pesquisa. É oportuno indagar qual o significado e o impacto possível desse acontecimento no sistema de ciência e tecnologia de São Paulo e do Brasil.

A FAPESP possui uma história rica em iniciativas paradigmáticas que contribuíram para o progresso evolutivo da organização da pesquisa científica no Estado. Pode-se distinguir três fases nos quase 40 anos de atividades da Fundação, que levaram a mudanças culturais e estruturais nas nossas instituições de pesquisa, principalmente nas universidades.

Na fase 1, entre 1962 e 1990, a FAPESP, por meio de um programa de concessão de auxílios financeiros de um ano a projetos de pesquisa, conseguiu efeitos muito importantes: a) fez nascer a cultura do professor pesquisador empreendedor acadêmico, que criando projetos de pesquisa competitivos obtinha recursos e recrutava estudantes e b) montou progressivamente uma robusta rede de avaliação de projetos científicos e tecnológicos entranhada na comunidade estadual, que alcançou enorme credibilidade. Este programa nunca foi interrompido: 499 projetos foram contratados em 1990 e 798 em 1995, respectivamente, por US$ 4,6 milhões e US$ 6 milhões. Mas, entre 1990 e 1995, o investimento da FAPESP saltou de US$ 21 milhões para US$ 136 milhões, propiciando condições para a abertura de programas novos.

A fase 2, com os projetos temáticos, passa a oferecer até quatro anos de financiamento renovável, permitindo orçamentos relativamente avantajados. Foram 191 projetos entre 1991 e 1995 envolvendo US$ 49,6 milhões. O objetivo era atrair projetos interdisciplinares destinados a resolver problemas relevantes de ciência e tecnologia. Mas as universidades não responderam à altura. O programa recebeu e aprovou propostas de ótima qualidade, mas, em geral, ortodoxamente disciplinares e distantes da complexa interdisciplinaridade exigida para a solução de problemas reais.

Diante disso, a FAPESP disparou a fase 3 em 1997, com o Projeto Genoma, iniciado com a Xylella e agora com outros projetos de seqüenciamento: a) Câncer Humano; b) Cana-de-açúcar e c)Xanthomonas citri . Engatilhou, também, projetos de genoma funcional. Esta nova iniciativa procura gerar macroprojetos interdisciplinares para resolver problemas reais do País, consorciando laboratórios de instituições diferentes em esforços coordenados de pesquisa. Dessa forma, a FAPESP desempenha o papel dos centros de ciência e tecnologia das boas universidades de pesquisa.

A conclusão do seqüenciamento da Xylella deu à FAPESP os primeiros resultados importantes da fase 3, que mais uma vez mostra agilidade, inovação e iniciativa para lidar com os grandes desafios. Enquanto isso, nossas universidades de pesquisa continuam não chegando junto.

Hugo Aguirre Armelin, Professor de Bioquímica, Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP)

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