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Especial Einstein

Maria Cristina Abdalla: Um charme discreto

Partículas elementares tornam-se personagens de livro e filme de divulgação da ciência

Maria Cristina: tema escolar e midiático

pedro palhares fernandesMaria Cristina: tema escolar e midiáticopedro palhares fernandes

As partículas elementares, também conhecidas como suba­tômicas, que participam da formação dos átomos e consequentemente de toda matéria do Universo, tornaram-se recentemente famosas com a inauguração, em setembro de 2007, do maior laboratório do planeta, o Large Hadron Collider (LHC), o acelerador de partículas do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern) instalado na fronteira da Suíça com a França, evento que teve ampla cobertura da imprensa mundial. Um assunto que ganhou importância também para o ensino médio no estado de São Paulo por estar, a partir de 2008, na grade do currículo escolar, como comentou a professora Maria Cristina Abdalla, do Instituto de Física Teórica (IFT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no início da palestra “O discreto charme das partículas elementares”, no dia 29 de novembro. Ela falou da necessidade de atualização dos professores de física desse segmento educacional e de dois trabalhos de divulgação científica que ela desenvolveu e vem a calhar nesse momento de expansão das partículas como tema escolar e midiático.

O primeiro foi o livro O discreto charme das partículas elementares lançado em 2006, que daria o nome e inspiração para um filme finalizado em 2008. “O livro foi produzido pela Editora Unesp em 2006 e teve financiamento da FAPESP e apoio da reitoria da universidade que foram fundamentais para a publicação e para a contratação de um cartunista profissional, o que se tornou um diferencial em termos editoriais”, disse Cristina. As ilustrações são de Sergio Kon, que fez desenhos para cada partícula, como elétrons, fótons, os mais conhecidos, e demais membros dos grupos dos quarks, dos léptons e dos bósons formadores do modelo padrão que explica a dinâmica e as características das partículas. “Foram horas e horas dizendo para o Kon: ‘Eu quero todos os léptons alados, porque eles são partículas leves’; ‘Eu quero o glúon com dois olhos grandes, porque um olho vai grudar com um quark e o outro vai grudar com outro quark'”, diz Cristina. “Então, elas estão decodificadas nos desenhos com as características e propriedades de cada uma.”

No livro, a pesquisadora descreve todas as partículas contando a história de cada uma. “Nosso objetivo é entender a estrutura da matéria a partir de uma gota de água, chegando ao núcleo dos átomos e mostrando que o próton ou o nêutron não são partículas elementares porque existe uma estrutura por trás deles”, disse Cristina. Ela começa a descrever as partículas pelo elétron que foi identificado em 1897 e percorre 103 anos de história, até o ano 2000, quando a última partícula do modelo padrão foi identificada, que é o neutrino tau. “Conto também que o elétron foi descoberto pelo inglês John Joseph Thomson e, em 1906, ele ganhou o Prêmio Nobel pela descoberta.”

O fóton foi a segunda partícula elementar a ser descoberta. Ela foi predita por Albert Einstein na sua teoria sobre o efeito fotoelétrico – na verdade ele ganhou o Prêmio Nobel por esse trabalho e não pela teoria da relatividade. No livro, o fóton é um floquinho de luz porque ele é um quantum (pacote) de energia luminosa. A verificação experimental do fóton foi dada em 1923 por Arthur Compton. Em 1927, ele também ganhou o Prêmio Nobel. “Foi o primeiro americano a ganhar um Nobel e depois disso eles tomaram o gosto pela coisa”, disse Cristina.

O mesmo floquinho de luz representante do fóton também aparece no filme O discreto charme das partículas elementares, que teve o roteiro baseado no livro. Na história, ele contracena com um aluno do ensino médio chamado Rafael, que interage com partículas subatômicas como fótons, elétrons, bósons, glúons e neutrinos num mundo virtual, junto com a melhor amiga de sua classe e mais dois professores, além de um apresentador de TV, vivido pelo ator Marcelo Tas. O filme estreou na TV Cultura no dia 10 de novembro de 2008, Dia Internacional da Ciência para a Paz e o Desenvolvimento. Ele foi apresentado à plateia no Ibirapuera e pode ser assistido pela internet no site.

A proposta do filme partiu de produtores da TV Cultura, e a professora Cristina solicitou e recebeu apoio financeiro por meio de um Edital de Projetos de Divulgação Científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para a produção. Depois de muitas pesquisas e discussões sobre a forma do filme, que poderia ser um documentário, por exemplo, optou-se por uma proposta que atingisse a linguagem do público que iria começar a receber esse tipo de matéria na grade escolar do ensino médio. Tanto o filme como o livro servem para uma melhor compreensão das partículas subatômicas por esse público e principalmente para os professores.

O discreto charme das partículas elementares
Maria Cristina Batoni Abdalla Ribeiro, física e professora livre-docente do Instituto de Física Teórica da Unesp, autora de O discreto charme das partículas elementares (Ed. Unesp)

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