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Boas práticas

Max Planck afasta diretora de instituto pela segunda vez

Prédio antigo do Instituto Max Planck de Economia, em Jena, na Alemanha

R.Möhler / Wikimedia Commons

A bióloga e arqueóloga canadense Nicole Boivin foi afastada pela segunda vez do cargo de diretora do Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana, sediado na cidade alemã de Jena. Após três anos de investigação, uma comissão apontou evidências de má conduta no trabalho de Boivin, como reivindicar crédito pelo trabalho de uma colega, negligenciar a supervisão de estudantes de doutorado e assediar moralmente funcionários do instituto e pesquisadores mais jovens. Em outubro de 2021, ela foi afastada pela primeira vez de suas funções executivas pelo presidente da Sociedade Max Planck (MPG), Martin Stratmann, mas recorreu a uma corte de Berlim. O argumento de seus advogados foi de que Stratmann não tem a prerrogativa de afastar os diretores de seus 84 institutos de pesquisa, o que só pode ser feito pelo Senado da MPG, um conselho composto por cientistas, representantes do governo e do setor industrial. Pois agora o Senado se reuniu e determinou novamente o afastamento da direção, por 31 votos a favor, um contra e três abstenções. A arqueóloga segue como pesquisadora dos quadros do instituto.

Sven Döring / Max Planck Institute for the Science of Human HistoryBoivin, que ocupava o cargo desde 2016, nega as acusações e pede uma investigação independente sobre o caso. “É extremamente decepcionante que a MPG não tenha concordado com os repetidos pedidos de uma revisão externa desse caso altamente problemático”, escreveu a pesquisadora em um e-mail para a revista Science. A comissão de investigação que apontou evidências de má conduta foi coordenada por Ulrich Sieber, diretor emérito do Instituto Max Planck para o Estudo do Crime, Segurança e Direito, e pela professora de direito da Universidade de Freiburg Silja Vöneky. Os detalhes do relatório não foram compartilhados com o Senado da MPG porque continham informações pessoais confidenciais. “Nem todas as testemunhas estavam dispostas a ter sua identidade divulgada”, explicou a porta-voz da MPG, Christina Beck.

A bioquímica Ulrike Beisiegel, ex-reitora da Universidade de Göttingen, votou contra o afastamento por considerar que não havia informações suficientes para tomar a decisão. “Há dois lados na história e essa é uma razão para criar uma investigação independente”, afirmou. A punição a Boivin suscitou um debate sobre a forma como a MPG trata mulheres em cargos de comando. Apenas 15% dos 304 diretores de unidades da sociedade são mulheres. Em uma carta aberta lançada em novembro passado, 150 pesquisadoras de vários países reclamaram que as líderes nos institutos do MPG “são julgadas com mais severidade” e as alegações de deficiência são “muito mais frequentemente feitas contra mulheres do que contra homens”. Os signatários da carta se dizem preocupados com o “efeito assustador sobre as mulheres jovens que consideram carreiras na ciência e engenharia” produzido pela divulgação de casos como o de Boivin.

Beck, a porta-voz da MPG, refuta a ideia de que lideranças femininas sejam discriminadas. “Nos últimos 10 anos, dois diretores – um homem e uma mulher – foram destituídos de suas funções executivas por má conduta”, disse à revista Physics World.  William Taylor, zooarqueólogo da Universidade do Colorado, em Boulder, Estados Unidos, que foi uma das testemunhas na investigação e é membro do departamento de Boivin desde 2019, considera que o caso da diretora deve ser analisado separadamente das discussões sobre vieses de gênero na MPG. “O sistema Max Planck e a ciência em geral certamente estão falhando em apoiar as mulheres cientistas”, diz. Ele ressalta, contudo, que esse problema de fundo não pode ser usado como escudo para proteger abusos no ambiente de trabalho, que “muitas vezes prejudicam as jovens pesquisadoras da instituição.”

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