Imprimir PDF Republicar

Tecnociência

Medicamento a partir de veneno

Há diversas razões para respeitarmos as cobras, além do evidente perigo que representam: são os medicamentos que elas podem inspirar ou fornecer. Do veneno da jararaca amazônica (Bothrops atrox), espécie responsável pela quase totalidade dos acidentes com picadas de cobras na Amazônia, o biólogo Jorge Luís López Losano, do Instituto de Medicina Tropical de Manaus, isolou dois princípios ativos que podem servir de base para o desenvolvimento de medicamentos antitrombóticos – capazes de bloquear a formação de coágulos na corrente sangüínea, que podem causar derrames cerebrais ou infartos.

No doutoramento, realizado na Universidade de Brasília (UnB) e concluído no início deste ano, Losano descreveu a estrutura molecular de uma delas, a proteína trombina-simile, que consome fibrinogênio, um componente essencial na formação do coágulos, e funcionou como antitrombótico em experimentos feitos in vitro (em células) e em camundongos. Voltando a Manaus, em colaboração com pesquisadores da Fundação Ezequiel Dias, de Belo Horizonte, trabalhou em outra molécula, a enzima fosfolipase A2, que in vitro retarda o processo de agregação de plaquetas, um dos componentes do soro sangüíneo.

“Se inibe a agregação de plaquetas, vai também deter a formação de trombos”, diz o pesquisador, que já cuidou do patenteamento dos princípios ativos. “O próximo passo são os testes com macacos.” Não seria a primeira vez que surgiria um medicamento seguindo esse caminho. Há décadas, uma indústria farmacêutica multinacional criou medicamento contra hipertensão a partir de substância encontrada em uma jararaca do Sudeste do Brasil.

Republicar