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Neotrópicas

Menos burocracia, mais empreendedorismo

Diminuir o tempo necessário para abrir uma empresa de biotecnologia é uma medida essencial para o Brasil manter a liderança na pesquisa em etanol

Quando se trata de bioenergia, o Brasil tem uma oportunidade rara de liderar o mundo em vários aspectos. Em termos tecnológicos, nossas usinas de álcool e nossos carros flex são apontados nos congressos científicos como o maior avanço que o mundo já atingiu em energia renovável. O etanol brasileiro é reconhecido por todos como um exemplo a ser seguido. Estamos colhendo os frutos de um trabalho de pesquisa tecnológica que começou há dezenas de anos.

Elogios são ótimos, e é muito bom sentir que nosso país é referência mundial em alguma coisa além do futebol. Mas é preciso ter muita atenção neste momento. A corrida tecnológica pela conquista das energias renováveis está em curso a todo vapor, e o Brasil não pode se deixar ultrapassar.

O que está ocorrendo no mundo é que cada nação ou bloco de países se prepara para tornar suas matrizes energéticas mais limpas. Os Estados Unidos já fazem etanol de milho, mas buscam avidamente outras plantas, que não sirvam de alimento, para produzir combustível líquido a partir de biomassa.

Em países como Canadá e Suécia, que têm vocação para o reflorestamento, o etanol de madeira parece ser o objetivo escolhido. Na Europa, o problema é complexo, pois há pouco espaço para produzir alimentos e ninguém lá quer ver áreas de plantio ocupadas por culturas energéticas. Na China, a bioenergia começou a ser discutida com mais intensidade só recentemente, porque o país tem uma enorme população que precisa ser alimentada e falta identificar áreas adequadas ao plantio de culturas energéticas.

Seja qual for a matéria-prima escolhida, uma coisa é essencial: não adianta produzir plantas energéticas se não houver por trás uma forte base de desenvolvimento científico e tecnológico, capaz de gerar empresas inovadoras que irão, efetivamente, produzir os biocombustíveis no futuro. É aí que o Brasil tem uma chance histórica de consolidar sua liderança mundial, mas precisamos investir ainda mais em ciência e tecnologia ligadas ao etanol e a outros biocombustíveis.

É fundamental que o Brasil repense o seu sistema de montagem de novas empresas. Precisamos atrair capital dentro e fora do país, e fazer com que o empreendedorismo brasileiro seja recompensado em todos os níveis possíveis. Um professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), por exemplo, pode se arriscar a montar uma empresa com dinheiro de investidores para desenvolver tecnologias a partir de sua pesquisa acadêmica. No Brasil, sem perder de vista a ciência básica, precisamos aprender a recompensar a vocação de empreendedorismo dos cientistas brasileiros. A base disso é a conexão entre o conhecimento produzido nas instituições de pesquisa e a indústria. É preciso que tenhamos em mente que a inovação não se completa quando o cientista deposita uma patente, mas sim quando ele monta uma empresa que se solidifica e se torna uma referência como produtora de tecnologia.

O Brasil tem melhorado muito e de 2007 até 2010 o tempo médio para a abertura de uma empresa caiu de 150 dias para algo entre 21 e 38 dias. Já nos EUA a abertura de uma empresa leva de 1 a 3 dias, mas há sistemas, como no estado de Nevada, em que é possível registrar uma empresa em até 1 hora. Na Índia também se consegue registrar uma nova empresa em 1 ou 2 dias. Já a China é mais burocrática do que todos e lá um estrangeiro pode levar entre 3 a 6 meses para registrar uma empresa devido à burocracia. Mas ela tem como vantagem o enorme mercado que atrai muito mais os investidores.

No caso do etanol de cana-de-açúcar, o Brasil já é líder. Para manter essa liderança, precisamos, certamente, de bons cientistas e engenheiros. Mas sem os empreendedores e o auxílio do governo facilitando  ainda mais a abertura de novas empresas, corremos o risco de morrer na praia e perder a corrida para os países desenvolvidos. Que são chamados assim por terem aprendido, justamente, a fazer essas conexões entre ciência e tecnologia de maneira eficiente.

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