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Boas práticas

MIT diz não encontrar evidências de má conduta em investigação de fraude em laboratório de bioengenharia

O biofísico indiano radicado nos Estados Unidos Ram Sasisekharan foi considerado inocente da acusação de ter se apropriado do trabalho de outros pesquisadores em uma investigação realizada ao longo de três anos e meio pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), instituição onde ele trabalha desde 1996 e coordena o laboratório de bioengenharia. Em um comunicado divulgado internamente em março e levado a público em junho, a vice-reitora de Pesquisa do MIT, Maria Zuber, informou que não foram encontradas evidências suficientes de má conduta em nenhuma das acusações atribuídas a Sasisekharan e que encaminhou os resultados da investigação ao Escritório de Integridade Científica (ORI), que supervisiona estudos financiados com recursos federais nos Estados Unidos.

Em 2019, pesquisadores vinculados à empresa de pesquisa Adimab publicaram um artigo na revista científica mAbs alegando que dois anticorpos desenhados computacionalmente no laboratório de Sasisekharan – destinados a tratamentos contra influenza e zika e apresentados em papers publicados nas revistas PNAS e Cell – tinham sequências de aminoácidos praticamente idênticas às de anticorpos já existentes. O trabalho da Adimab criticou o fato de o laboratório do MIT não haver disponibilizado em seus artigos os algoritmos utilizados para gerar as estruturas, tampouco as sequências de aminoácidos obtidas (a Adimab teve acesso às sequências ao analisar registros de patentes feitos pelo grupo de Sasisekharan), o que dificultava a tarefa de confirmar os resultados e levantava dúvidas sobre sua integridade. Por fim, insinuava que os anticorpos não haviam sido desenhados computacionalmente, o que configuraria fraude.

Várias empresas, como a Momenta Pharmaceuticals, a Tychan e a Visterra, foram fundadas para explorar propriedade intelectual gerada pelo laboratório de Sasisekharan. A Visterra, por exemplo, desenvolvia o anticorpo contra a gripe quando foi comprada pela farmacêutica japonesa Otsuka por US$ 430 milhões em 2018.

O pesquisador do MIT prontamente negou que os algoritmos pudessem ter copiado estruturas já existentes. Criticou a forma como a acusação foi tornada pública, antes que ele pudesse apresentar seus argumentos. Diz ter sido informado sobre a suspeita ao ser procurado por um repórter do Wall Street Journal que tinha uma versão preliminar do artigo em mãos. Afirmou que o trabalho da mAbs foi publicado apenas dois dias depois de ser submetido à publicação e não passou por uma revisão rigorosa. Na época, Peter Dedon, professor de bioengenharia do MIT, saiu em defesa do colega. Ao site StatNews, sugeriu que a Adimab, empresa de pesquisa que desenvolve anticorpos, tinha interesse comercial em desacreditar o trabalho de Sasisekharan. “Há uma guerra corporativa sendo travada em uma revista acadêmica”, classificou.

Após a abertura de uma investigação sobre o caso pelo MIT, Sasisekharan ficou proibido de fazer novos comentários públicos sobre o caso, como determinam as normas da instituição de pesquisa. No comunicado divulgado em junho, a vice-reitora, Maria Zuber, disse que a investigação é sigilosa e não deu detalhes sobre os resultados ou a alegada semelhança entre os anticorpos, mas informou que a instituição decidiu compartilhar as conclusões para “encerrar o assunto, reprimir rumores ou especulações remanescentes e ajudar a restaurar a reputação do professor Sasisekharan e dos membros de seu laboratório”. O pesquisador se disse satisfeito com os resultados. “Esses últimos três anos e meio foram extremamente difíceis para meu laboratório, minha família e para mim”, disse Sasisekharan. “O ataque público que sofremos, associado à impossibilidade de nos defendermos publicamente, foi um abuso flagrante do processo de má conduta em pesquisa.”

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